ARTICULISTAS

Projeto Futurista

Todos dizem que a solução das enchentes

João Eurípedes Sabino
Publicado em 12/07/2013 às 19:47Atualizado em 19/12/2022 às 12:03
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Todos dizem que a solução das enchentes de Uberaba só passa pela canalização de seus córregos. Major Eustáquio, visionário que era, iniciou a cidade no sopé da colina onde hoje está a Praça Rui Barbosa. Por quê? Naqueles tempos já existiam as enchentes e elas tomavam os córregos se espraiando por suas margens. Não observamos o exemplo do major e quase encostamos a cidade nos córregos.   

Nos anos setenta do século passado demolimos uma bucólica obra, hoje vista nos cartões postais. O córrego da avenida Leopoldino de Oliveira e os outros que corriam a céu aberto foram enclausurados em canais de concreto armado.

Randolfo de Melo Rezende, vereador nos períodos de 1947/51 e 1955/59, estando em meu escritório no ano de 1982, esperou a chuva passar por quase uma hora. Ao ver as águas inundarem a avenida Fidélis Reis e tocar os pneus de sua caminhonete que estava afastada a 15 metros da rua, ele revelou-me algo que eu não sabia: “Na década de cinquenta apresentei à Câmara de Vereadores um projeto de contensão das nossas enchentes muito barato e oportuno. Consistia em fazer pequenas represas ou açudes nas cabeceiras dos nossos córregos para armazenar as águas de chuva. Com o controle por comportas, só desceria o excesso e não ocorreria a inundação do centro da cidade”.

E continuou o mestre Randolfo. “Para não ficar só nisto, faríamos galerias auxiliares de concreto, de fácil construção, passando por ruas que circundam o centro da cidade. O excesso d’água que essas galerias não comportassem, iria para os córregos sem provocar enchentes”. Diante da simplicidade da ideia, perguntei a Randolfo se seu projeto funcionaria mesmo, ao que ele me respondeu:  “Você já viu curvas de níveis nas fazendas para conter a velocidade das águas? Na cidade, as galerias seriam curvas de níveis negativas, ou seja, ficariam abaixo do solo. Entendeu?”  Curvei-me diante daquele projeto futurista e original.

Não por acaso,  no dia 06/06/1983, com meus alunos da cadeira de Engenharia de Segurança na Universidade de Uberaba, dedicamos um minuto de silêncio a Randolfo de Melo Rezende que perdia a vida num acidente da rodovia MG-190. Hoje ela tem o seu nome. O tirocínio do pecuarista ficou marcado também na presidência do Sindicato Rural de Uberaba, onde fez brilhante gestão junto a valiosos companheiros. A marca “3R” do seu gado Gir continua sendo cada vez mais apurada.

Randolfo e Dª Nísia marcaram aqui suas passagens  e nos brindaram com seis filhos, dezenove netos e  vinte bisnetos. O filho Luiz Alberto Cruvinel Rezende formou-se em engenharia civil e se especializou em barragens. Terá sido por acaso?

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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