Recentemente assisti pela televisão a uma pitoresca reportagem sobre o lendário e temível Caboclo Dágua...
Recentemente assisti pela televisão a uma pitoresca reportagem sobre o lendário e temível Caboclo Dágua. Era um monstro aquático personificado em forma de grande gorila que reinava absoluto nos rios e fazendas a tombar canoas, sacrificar rebanhos, além de fazer outras diabruras. A pacata cidade mineira de Barra Longa com seus sete mil habitantes foi o palco dos relatos místicos que envolvem o “cabôco” nunca visto.
É de impressionar o quanto aquele agente do medo habita a mente das pessoas e, em caráter especial, sem nenhum pudor, toma-lhes a faculdade de imaginar. Nesse rol de incautos estão inocentes crianças e adultos, que vão dos desletrados aos de boa cultura. Uma Associação das pessoas que desejam ver, pegar e até eliminar o Caboclo Dágua foi criada. Enquanto isso o nome do monstro vai passando de imaginário a imaginário, de geração a geração. O octogenário Antônio Resende lidera os contadores de causos “reais” sobre o Caboclo que ele mesmo nunca viu. Pode essa?
Quando vejo essas aberrações criadas de forma engenhosa por alguns para iludir a tantos, volto ao meu tempo de criança e me recordo que eu também tenho uma história do Caboclo Dágua: meu creditado avô João Sabino contava que quando jovem “viu” um canoeiro decepar quatro dedos da mão direita de um Caboclo Dágua com seu afiado facão. O bicho tentou tombar a canoa de Isaías no Rio São Francisco; não conseguiu virá-la e os quirodáctilos seus ficaram cortados dentro da embarcação. Será?
Quantos males essa lenda me fez, já que no seu lugar, fatos reais e construtivos eu poderia ter ouvido e gravado. Enquanto isso, o Caboclo Dágua, a Mula Sem Cabeça, o Lobisomem e outros bichos ainda correm soltos infundindo o temor.