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Os números em nossa vida

Muitas criaturas além do nome, também são identificadas por números. Tiburcio Bragantino Melado Branco...

Manoel Therezo
Publicado em 09/02/2013 às 09:11Atualizado em 19/12/2022 às 14:49
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Muitas criaturas além do nome, também são identificadas por números. Tiburcio Bragantino Melado Branco, obedecendo a lei, se apresentou na sede do Tiro de Guerra. Não foi dispensado como esperava. Na primeira manhã no momento da chamada, foi notificado pelo sargento, de que naquele pelotão ele seria o atirador 23. Continuando, o sargento lhe disse que não se julgasse ajudado pela sorte naquele número porque, por razões cuidadosas, o número seguinte ao seu no Tiro de Guerra não existia. Ficou depois daquele aviso, pensando naquela numeração 23 que lhe substituía o nome. Foi a partir de então, que começou a perceber que muitas coisas nele, eram números. Sua altura era de 1.80, pesava 83 quilos, nascido em 28 de 02 de 1952. O tamanho de sua camisa era o número 04, o colarinho 39, seus sapatos 41. Também, outros números estavam em sua vida. Morava na casa nº 138 da Rua Tulipas, 3º andar, sem elevador. Que deveria por isso, enfrentar uma escada com 45 degraus de 10X25. Olhando seus documentos, percebeu também, que na sua RG, registrava os números 8001.490. Também o seu CPF, 02W186R352-2X05. Logo conseguiu um emprego em uma fábrica de botinas. Haveria de se levantar às 6horas da manhã, dirigir-se a Rua 15 de novembro, tomar o ônibus C436, que o levaria até a travessa das Orquídeas nº 998, onde ficava a fábrica. De imediato, registraria no cartão n°04, seu comparecimento às 8horas. Deveria naquele dia, confeccionar 02 pares de botinas na cor 28-XP001, que correspondia a cor preta. De lá, discou para o telefone fixo de sua residência nº3526036 que dava sinal de ocupado. Discou para o celular 299754315, atendeu. Perguntou qual a razão do telefone 3526036, estar ocupado? Não estava ocupado e sim, fora do gancho, lhe responderam. Também lhe disseram que o vidraceiro havia estado lá, trocando aqueles 04 vidros de 80X35 da sala, cobrando R$ 228,00. Também, que a lavanderia havia levado as 04 calças. Cobrou R$60,00. Logo às 18h, após sua saída da fábrica, tomaria novamente o ônibus C436, para chegar a Rua Tulipas 138, onde residia. As 19horas, deveria de estar no Colégio “Os Pensadores,” onde permaneceria até às 23 horas. Logo que recebeu o seu salário na fábrica, abriu uma conta que constava os números 4074280-91 que nunca os decorou. Tinha um plano de saúde nº PP004613280, que também até então não havia prestado atenção naquela numeração. Por descuido, foi atropelado pelo carro com placa XRT-5489. Hospitalizou-se. Seu plano mencionava infermaria. Estava lotada com 05 pacientes. Foi para um quarto nº 03, pagando um acréscimo de R$150,00 por dia. Ao ser transferido, sem compreender porque não apresentaram claras razões, pagou um adicional de R$200,00 ao médico que lhe atendia. Os remédios também tiveram seus preços alterados para maior. Gritou, resmungou, reclamou, bateu os pés, mas nada adiantou. Recebeu alta. Dias depois, foi acometido de uma febre de 40º. Repentinamente, veio a óbito às 16h do dia 14|07|2010. Foi sepultado na quadra RPP nº 33. Seus familiares convidaram os parente e amigos para a missa de 7ºdia de Tiburcio Bragantino Melado Branco, às 17h, na capela das “Almas Boas”, bairro dos “Curiangos” nº 864. Assim, um ser humano simples, trabalhador, somente após o seu número 23 no Tiro de Guerra, percebeu que ele e todos nós, temos a vida cheia de números.

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