ARTICULISTAS

Quem sabe?

Tudo ocorre na hora certa; o relógio da ignorância

João Eurípedes Sabino
Publicado em 18/01/2013 às 20:21Atualizado em 19/12/2022 às 15:15
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Tudo ocorre na hora certa; o relógio da ignorância é que nos dá a falsa ideia de que algo possa acontecer antes ou depois. Por não nos atermos à razão das coisas atribuímos ao acaso muitos fatos que nos acontecem. Veja-se adiante.

Saí de casa com destino ao trabalho já com o horário adiantado sem poder desperdiçar o tempo. Entrei depois com o carro na garagem e antes de me dirigir ao batente, me lembrei de algo a fazer com premência no centro da cidade. Desci minha rua a pé e como se tivesse marcado um encontro, avistei um amigo que há tempos eu não via. Sabendo do seu delicado estado de saúde, o abracei e notei a sua grande dificuldade para me reconhecer. O mal de Alzheimer está presente em sua vida.

Amistosamente aquele amigo me disse: “Olha, não espalhe. Eu estou fugido de casa e vou até uma sorveteria ali na esquina. Logo volto pra casa. Até mais”. E partiu em direção à sorveteria que há anos não existe mais. Sem poder contê-lo, observei sua trajetória e, em vão, fui a dois edifícios próximos tentando localizar seus familiares. No terceiro prédio, uma neta sua me atendeu. Narrei-lhe o fato e juntos fomos ao encontro de seu avô. Ele não a reconheceu e depois de relutar acompanhou a neta de volta.

Observando avô e neta caminhando, ele praticamente alheio ao mundo, e ela tomada pela ansiedade, refleti sobre a Lei do Tempo. No dia 25/06/1999, meu pai sentiu-se mal na rua e um estranho o socorreu, levando-o ao Hospital Escola. Outra pessoa se apressou em me avisar sem revelar a identidade. Treze anos se passaram, não sei quem são esses dois bondosos e, até hoje os procuro para lhes resgatar esse débito. Sei que podemos até projetar essas oportunidades, mas jamais saberemos quando elas irão acontecer.

Ao evitar que o meu amigo com a memória afetada pudesse se transformar numa pessoa desaparecida ou ser atropelado em nosso trânsito desumano, entendo que comecei a saldar minha dívida. Tudo que eu fizer, entretanto, será pouco diante do alívio que senti vendo meu saudoso pai socorrido e a salvo.

A providência do Tempo segue me dando oportunidades para que eu seja útil ao meu semelhante nessas horas. Hoje é o dia dele, amanhã será o meu. Quem sabe?

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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