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Reflexões

Meu caro amigo leitor, não canso de repetir

Leuces Teixeira
Publicado em 17/01/2013 às 20:34Atualizado em 19/12/2022 às 15:16
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Meu caro amigo leitor, não canso de repetir, ainda continuo respirando, com a graça e pela graça do Criador. No momento em que estou tentando escrever este texto, estou trancado num quarto de hotel, na cidade de Araxá. Trancado no bom sentido, do contrário, algum desavisado vai imaginar que estou detido e joga isso na boca pequena na terra de Major Eustáquio. Aí o celular vai tocar sem parar, principalmente por parte dos meus familiares – minhas irmãs, então, nem imagino; tenho cinco para pegar no meu pé. Não é isso, repito, não estou detido. Vim a trabalho, ou seja, fazer uma audiência criminal num caso tortuoso e tormentoso, em que a sociedade desta cidade comenta tudo que tem direito, vários comentários e teses jurídicas, coisas inimagináveis. Tudo que escuto guardando na minha cachola, matutando e ruminando, conforme bom ditado das terras mineiras; este caso vai desaguar no Tribunal Popular – júri –, disso não tenho a menor dúvida. O certo é que estou aqui, de frente para a tela do computador, às 4h30 da manhã. É a maldita insônia que me persegue desde a infância, fazer o quê? Esmurrar a parede? Sair gritando pelas ruas? Aumentar a dose do Rivotril? Jamais! Nunca tomei e nem vou tomar o tal do Rivotril. Tomo, sim, o Brahmotril, fabricado pela Ambev, feito à base de cevada, de três a quatro ampolas diárias – sou Brahmeiro – tomo lá no bar do Sr. Lico, extremamente gelada, nem sempre... Noutro giro, confesso que estou tremendamente perplexo com os fatos noticiados por toda a imprensa no tocante à criminalidade, tendo como pano de  fundo a questão patrimonial. Os caras estão atirando mesmo, matando a sangue frio, num piscar de olhos. O chamado “dedo mole” nunca esteve tão ativo, tanto nas grandes cidades como nas pequenas. O modus operandi – linguajar policialesco – é sempre o mesm fazendo uso de motocicletas – capacetes e viseiras escuras, jaquetas, placas viradas, tudo para dificultar a investigação, e, como não poderia deixar de ser, maiores de dezoito anos na companhia de menores. Verdadeiros escudos para encobrir a ação daqueles, ou seja, os “di menor” – jargão usado pela marginália mirim – assumem toda a responsabilidade. O que fazer? Não sei. Redução da maioridade penal? Em que patamar (16, 14, 12 anos)? Aumentar o prazo de internação dos “di menor”? Puni-los como maiores? Responsabilizar os pais? Responsabilizar o Estado? Enfim, o debate está aberto, do jeito que está não pode ficar. Todavia, não podemos esquecer que a sociedade e as autoridades – todas – estão preocupadas com essa violência, que causa visibilidade, impacto, que vende jornal e dá ibope, sai sangue! A violência do colarinho branco, ao contrário, recebe elogios por parte de alguns e dá votos. Basta dar uma olhada no Congresso Nacional, nos Estados e Municípios, verificar o número de “otoridades” que deveriam estar banidas do quadro político. Deveriam estar cumprindo penas em regimes duríssimos para dar exemplos, ou seja, os homens do andar de cima são punidos. Somos hipócritas, exigimos legislação e penas duras para a violência, conforme já dito, que jorra sangue e aumenta o ibope das TVs. O colarinho branco, cada vez mais branco e impune! E eu, aqui, trancado, esperando a hora da audiência. Haja bolsa escrotal, para não mencionar outra coisa. Fuiiiiii....

(*) Advogado criminalista e professor universitário

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