ARTICULISTAS

O Mito das Sereias

Há momentos que a mente não os esquece

Manoel Therezo
Publicado em 06/10/2012 às 20:55Atualizado em 19/12/2022 às 17:02
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Há momentos que a mente não os esquece. Até da emoção ante a beleza dos filmes que não mais se vê. Como eu gostaria que o menino de hoje os assistisse porque, tenho que todos os meninos são iguais. Não tinha eu mais que doze anos quando assisti ao filme Ulisses. Cenas que me ficaram na mente. Por causa das Sereias Ulisses não chega ao seu destino. Navegava ele num mar azul e sereno pelo litoral do sul da Itália. Logo na entrada do estreito da Sicília, moravam ali as Sereias tentadoras que com o seu canto maravilhoso, atraiam os navegantes para devora-los. Eram belíssimas, porém traiçoeiras e fatais. O filme se desenrolava no Mito das Sereias. Quando Ulisses se aproximou daquele estreito, a divina Circe o recomendou que evitasse ouvir as Sereias de voz maviosa e enfeitiçada. Recomendava também, que tapasse com cera, os ouvidos dos companheiros e continuava: “Se tu mesmo quiseres ouvi-las, é preciso que eles te amarrem em torno do mastro da nave, de pé, com possantes cordas para que tu possas ouvir com prazer as duas Sereias. Se, porém, lhes pedires ou ordenares que te soltem as cordas, mais fortemente te devem amarrar o corpo.” [Odisséia, canto XII]. Assim, os marinheiros procederam. Ao passar pelo estreito onde moravam as perigosas Sereias, um canto maravilhoso encheu o salão do cinema. Inesquecível beleza que tudo nos parecia realidade. Aquele mar azul e calmo, repentinamente se encapelou furioso junto ao canto das Sereias, destruindo a nave de Ulisses. Todos em mar revolto, se agarravam aos pedaços da nave que flutuavam. Mas, o mar bravio venceu... Todos os marinheiros pereceram. Ulisses desacordado pelo canto das Sereias, arrastado pelas ondas, acaba estirado em uma praia sob um sol que brilhava ao amanhecer. O dia clareava e o mar novamente se mostrava belíssimo, azul e calmo. A filha do rei Alcino, Rosana Podestá, linda criatura do cinema, leva ao conhecimento de seu pai Alcino, a existência na praia de um homem lhe parecendo morto ao sol causticante. Distante da praia sobre um terreno mais elevado, outras criaturas curiosas, assistiam aquele homem que parecia se acordar. Era Kirk Douglas, de pele tostada pelo sol. Ao se acordar, de pé e de braços abertos, bradava dizendo-se quem era; “Eu sou Ulisses, filho de Laerte, rei de Ítaca. Dá-me rei Alcino, uma nave para que eu volte a ver o meu povo e o meu amor.” Setenta e dois anos passados, já me esquecendo de mil coisas, ainda disso me lembrar, é uma saudade de tudo de ontem que me faz saudade. Hoje, o menino com doze anos sequer sabe o que é Sereia. Se lhe perguntar o que é Adrenalina no seu verdadeiro sentido não sabe também — mas, no sentido figurado terá a resposta na pontinha da língua. Pobre menino que não vê os filmes que eu vi, que não tem nas telas dos cinemas de hoje, o Tarzan da minha época...

(*) Odontólogo; ex-professor universitário

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