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As brincadeiras do Amaral

Na oficina do amigo Amaral, conheci um senhor

Manoel Therezo
Publicado em 01/09/2012 às 19:21Atualizado em 19/12/2022 às 17:37
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Na oficina do amigo Amaral, conheci um senhor também eletrotécnico que todos lhe chamavam por Zita—menos o Amaral que na intimidade o chamava de Taturana, em razão de possuir muitos cabelos na orelha internamente. O senhor Zita era de uma educação de fazer inveja, também incapaz de uma resposta atravessada a qualquer um. Mantinha pequena oficina de consertos de rádios e outros objetos. Sempre estava na oficina do Amaral trocando ideias relacionadas aos trabalhos deles. Comprou uma camionete usada para o seu serviço. Entusiasmado, vivia lustrando-a. Acabou sendo conhecida por Lustrosa. Estando na oficina, escutava as nossas combinações de irmos pescar. Em uma dessas, manifestou o desejo de ir conosco e que iria com a lustrosa. A gargalhada foi geral, até porque ninguém acreditava que ele tivesse coragem de coloca-la nas poeiras daquela estrada. Confirmando, combinou de estar cedinho no posto onde era nosso costume esperar pelo Amaral. Quando lá chegamos, já estava nos esperando. Pouco depois chegava o Amaral. Partimos. O senhor Zita atrás de nós. Bem lá na frente, o Amaral parou a caminhonete e foi conversar com o ele. Ao voltar, me pediu que fosse com o Zita porque iria mais rápido para dar tempo de arrumar a canoa e a tralha. Eu conhecendo a estrada lhe seria bom. Tudo bem, respondi e passei para lá. O Zita ficou satisfeito. Era demais a educação daquele senhor. O Amaral nada me falou do que havia conversado com ele. Depois de algum tempo, o Zita começou acelerar mais e mais a lustrosa.  Eu não fazia ideia por que acelerava? Supunha que estivesse querendo ver o seu rendimento. Na estrada pouco mais à frente, havia uma curva demais fechada, quando era preciso reduzir muito a velocidade. Não me deu tempo de avisa-lo. Perdendo em absoluto o controle da direção, entrou com a lustrosa saltitando por um milharal já seco, como se fosse para derrubar tudo que ainda estivesse em pé. Assim dobrando e arrastando tudo, quase atravessamos a roça inteira, deixando atrás, um corredor com pés de milho arrancados e outros deitados e o Zita pálido como uma cera. Finalmente a lustrosa parou. O Zita tremendo e envergonhado, ficou bravo demais.  Logo chegou o Amaral e o Richarde morrendo de rir daquela derrubada de pés de milho. O Zita de cabeça baixa, não gostou da brincadeira. Não deu uma palavra com ninguém. Foi uma luta para voltar à lustrosa na estrada. Muito trêmulo e sem perder a educação, voltou dali para Uberaba. Passei para a caminhonete do Amaral que me contou que havia dito ao Zita, acelerar o que a lustrosa alcançasse para vencer uma subida demais forte logo a diante, assim que levantasse o braço fora de sua camionete. Eu realmente vi o Amaral levantando o braço, mas nunca poderia pensar naquilo. Dias depois, ficamos sabendo que o Zita havia mudado de local. Não mais apareceu na oficina do Amaral. Ao saber de sua mudança, o Amaral ficou muito arrependido e nos disse que iria procura-lo. Demorou demais e o destino não lhe esperou. Que Deus o tenha, mas as suas brincadeiras... (*) Odontólogo; ex-professor universitário

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