ARTICULISTAS

O exemplo dos japoneses

Quando parte do Japão foi arrasada por um tsunami

Mário Salvador
Publicado em 28/08/2012 às 19:59Atualizado em 19/12/2022 às 17:40
Compartilhar

Quando parte do Japão foi arrasada por um tsunami, muitas vidas foram ceifadas. E os sobreviventes tiveram que conviver com prejuízos vultosos: perda de bens de valor e dinheiro (que estavam em cofres ou carteiras), casa, carro, móveis, roupas, documentos...

Seguindo o princípio de “o seu ao seu dono”, japoneses entregaram à polícia todo o ouro ou dinheiro que encontraram (cerca de R$ 125 milhões). E 96% desses valores já foram restituídos a seus legítimos donos.

No Brasil, há pouco tempo, dois moradores de rua encontraram um pacote com R$ 20 mil e o entregaram à polícia, que devolveu o pacote aos proprietários de um restaurante assaltado, por coincidência, japoneses. Esses japoneses deram uma recompensa aos moradores de rua e lhes ofereceram emprego e melhores condições de vida. Apesar de que, por lei, a entrega do dinheiro à Justiça devesse ser a regra, casos de honestidade merecem atenção especial da mídia, por ser raros. Raros, no Brasil.

Outro caso que tem merecido destaque no noticiário é o da devolução de R$ 468 milhões que o empresário e ex-senador Luiz Estêvão fará aos cofres públicos. O processo se arrasta desde 1998. O empresário desviou R$ 169,5 milhões da construção do Tribunal Regional do Trabalho, em 1992, importância que, acrescida de juros e multas, chega ao valor a ser devolvido, conforme acordo. Como garantia, os bens do empresário foram bloqueados pela Justiça. E, embora Luiz Estêvão se diga inocente, ele optou por fazer o pagamento com uma entrada de R$ 80 milhões e mais 96 parcelas de R$ 4 milhões. “Uma gotinha de água no patrimônio do empresário, que terá seus bens liberados pela Justiça”, encarregada de acompanhar com rigor o pagamento da dívida.

Sem dúvida, uma vitória da Advocacia Geral da União, que, em sua história, considera essa a maior ação de recuperação de dinheiro público desviado. E um justo castigo para o corrupto que se apropria do dinheiro público indevidamente é ser obrigado a enfiar a mão no próprio bolso para devolver o valor afanado (corrigido). O fato, tão raramente visto, de se fazer justiça num caso como esse, é digno de manchete nos jornais.

Houve também o caso de Georgina, que se apropriou de valores superiores a R$ 200 milhões, da Previdência. Descoberta, Georgina acabou presa, mas grande parte do valor não foi recuperada. Pelo menos até agora. Uma vez em liberdade, Georgina certamente usufruirá do montante que ficou em seu poder. O justo seria ela devolver tudo, com juros e correção monetária. Talvez sentisse mais por isso que pela privação da liberdade.

Ainda temos esperança de, como os japoneses, aprender a respeitar o bem alheio. Quando certos dirigentes políticos deixarem de colocar nos bolsos verbas destinadas a vítimas de enchentes e à recuperação de cidades devastadas por catástrofes, já teremos bom indício de mudança.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por