Esculhambação total

Estamos assistindo ao maior circo armado no Brasil, visto em tempo real por toda a população. Refiro-me à Ação Criminal 470, ou melhor, o “Mensalão”, em trâmite no STF. Tive vontade de ir a Brasília para ver as sustentações orais dos advogados, mas desanimei.

É de causar sono profundo ver advogados pagos a peso de ouro ler aos ministros páginas do processo que S. Exas. já leram. Um ritual enfadonho, que merece ser repaginado.

Concordo com o que li nesta folha quando foi destacada a fala de um respeitável defensor: “Meu cliente não sabia e nem viu nada, só cumpria ordens, não há provas contra ele nos autos, não recebeu dinheiro, não pagou a ninguém, não sabe quem é e nunca viu fulano ou beltrano, não decidia nada, etc., etc., etc.”. E acrescento a seguinte aberração de outra defesa: “A Procuradoria-Geral da República se equivocou; houve falhas na investigação; faltam provas contundentes, etc, etc.”. Eh... leitor(a), somos tratados como um bando de beócios.

Foi feliz um jornalista ao fazer o seguinte prognóstic “Serão condenados, senão todos os réus, pelo menos alguns para que se faça justiça aos engenhosos do predatório esquema, evitando assim que o STF fique desacreditado levando consigo o Ministério Público Federal, numa clara prova de que esse, enquanto Fiscal da Lei, não foi diligente para denunciar”. Pessoalmente, não creio que a Procuradoria-Geral da República tenha dado um mergulho tão raso em águas sabidamente profundas.

Penso que, se os “conspícuos acusados” forem absolvidos, estará decretada a ESCULHAMBAÇÃO TOTAL DA REPÚBLICA. Não quero viver essa nova fase degenerativa do Brasil e nem desejo que ninguém a viva.

Somos tão viciados em sentimentalismo que achamos um absurdo ver poderosos sendo levados para um presídio. Basta nos lembrarmos das crianças famintas, dos doentes morrendo nas filas de hospitais, da violência acuando a sociedade, da educação em acelerado declínio, das drogas matando os nossos jovens, dos enriquecimentos ilícitos e outras mazelas sociais. Aí sim, clamamos esperançosos numa só voz: Justiça; você não vai tardar e nem falhar! Ou há melhor súplica a fazer?

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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