ARTICULISTAS

Da essência ao aparente

Ao longo da história, o corpo foi objeto preferencial de cultos

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 13/06/2012 às 20:30Atualizado em 19/12/2022 às 19:08
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Ao longo da história, o corpo foi objeto preferencial de cultos, cuidados e rituais. Nas sociedades primitivas o corpo foi usado até mesmo como objeto de troca com o sobrenatural: se a colheita estava em perigo, um corpo era ofertado ao Deus para garantia de fartura. Em nosso tempo o culto ao corpo se verifica na busca pela beleza, na preocupação com a higiene e a saúde, no cuidado de si e no seu uso como objeto de arte.

Em um momento a valorização da imagem corporal não era sinônimo de valor moral – o eu, a subjetividade e tudo aquilo que os definiam eram sinônimos de valor interior, da ética, da educação, dos bons costumes e, sobretudo do caráter. Buscava-se a ética na personalidade que era repassada e sustentada através de gerações. No momento seguinte, com o avanço do capitalismo, da sociedade de consumo, do império da moda e da publicidade, da ascensão da cultura da imagem e do espetáculo, do ideal de beleza e bem-estar físico e corporal, a concepção de sujeito mudou! A definição passou a ser dada pela imagem, por aquilo que se apresenta como valor estético e corporal – ressalta-se a aparência em detrimento da essência.

A orientação anterior se pautava nos valores tradicionais: família, classe social, cultura local e outras, cujas identidades e papéis sociais eram atribuídos por herança, conforme a pertença a determinados laços sociais. Agora, na sociedade contemporânea, para ser alguém é necessário ser saudável (que não é mais a vida no silêncio dos órgãos) no sentido do espetáculo proporcionado pela imagem “saudável” do corpo. Assim, a saúde se tornou submissa a uma ideologia que combina um estilo de vida direcionado ao prazer junto a uma corpolatria generalizada e cada vez mais encerrada na aparência.

Nesse sentido o corpo passa a ser mote de higiene e a impureza se dá através de corpos poluídos e depositários de gordura, colesterol e flacidez, solicitando uma purificação para atender ao apelo da nova moral ética e estética vigente do corpo.

Ora, se a aparência virou essência, as modificações corporais dão o tom da nova moda do mercado, forçando a pergunta: “Com que corpo eu vou?” Adicione a isso as cirurgias plásticas para redução ou aumento de determinadas partes do corpo, lipoaspirações, piercings, tatuagens, que fazem do corpo um espaço de arte!

(*) Psicóloga e psicanalista

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