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Amamentar sim, até quando?

A imagem de uma mãe amamentando seu filho de seis anos

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 06/06/2012 às 20:26Atualizado em 19/12/2022 às 19:16
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A imagem de uma mãe amamentando seu filho de seis anos divulgada na internete provocou inúmeros comentários, que se estenderam da mais severa reprovação ao aplauso concordante! A comoção de muitos e a diversidade de opiniões revelaram uma lacuna cultural no que se refere à compreensão do processo de aleitamento materno nas suas funções nutritivas essenciais e, principalmente, na constituição de um psiquismo nascente.

Acompanhando o pensamento de Chaim Katz, lembramos que mãe é aquela que gerou o filho e que, por isto, é o primeiro objeto de investimento libidinal desta criança. Inicialmente, ele enfatiza o fato da concretude efetiva do nascimento da criança do corpo de uma mulher, que se torna então mãe, para em seguida enfocar a questão da libidinação do corpo deste infante, que se torna assim “Corpo Erógeno”. No pensamento psicanalítico, todo corpo é libidinal. Corpo fonte da libido, produtor libidinal e produto desta libido. Sobre esta base pulsional/libidinal se assentará o corpo erógeno agora plenamente psíquico e não adstrito somente ao registro orgânico.

Na fisiologia de uma organicidade encontramos lugares privilegiados, como a boca, o ânus e os genitais, que, pelo investimento pulsional, fazem a inscrição e a transposição para o corpo erógeno. Desde que a criança precisa se alimentar, será a boca a primeira a se erogenizar, pois é aí que a satisfação das necessidades orgânicas e o prazer erógeno se articularão inicialmente. Nesta díade seio/boca, nestes “lugares privilegiados” e simétricos se constituirão o filho e sua mãe. Entre a criança indefesa e carente e o que a satisfaz aparece a mãe como sendo simultaneamente satisfação orgânica e satisfação prazerosa. A mãe se posiciona nessa dupla função de alimento biológico e psicológic um mesmo objeto para as pulsões de autoconservação e para as pulsões sexuais que se apoiam nelas, e é nessa duplicidade de funções que encontramos também seu limite.

A amamentação materna satisfaz a fome do alimento e a fome do amor, já que o seio é a fonte do leite como também é algo e alguém que acolhe, acaricia, emite sons e contamina com o afeto. O seio aplaca a dor incômoda de um estomago vazio e, também, possibilita o prazer de ser amado. O limite da amamentação se dá quando o leite perde seu valor de propulsor do crescimento e desenvolvimento físico da criança para se tornar o carcereiro da prisão onde se tranca a dupla seio/boca num eterno gozo parcial.

(*) Psicóloga e psicanalista

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