ARTICULISTAS

Sobre as bases do amor materno

Muito se tem escrito sobre as relações entre filhos/mães

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 09/05/2012 às 20:51Atualizado em 19/12/2022 às 19:49
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Muito se tem escrito sobre as relações entre filhos/mães neste mesmo sentid quais os sentimentos vividos pelos filhos no seu contato com a mãe. O sentido inverso, ao contrário, tem recebido escassa atenção dos estudiosos e produtores de textos. O próximo “Dia das Mães” é a oportunidade ideal para a seguinte questã o amor materno é inato ou adquirido?

Nem sempre o nascimento do filho é acompanhado pelo afeto amoroso e a alegria; em alguns casos, as mães se decepcionam e não experimentam verdadeiro sentimento de amor materno. Se esse sentimento aparece, no entanto mais tarde, tem-se a impressão de que não são tantos os fatores fisiológicos, mas os psicológicos que desempenham papel decisiv certa compaixão, a convenção que exige amor por parte da mãe, e outros. Por outro lado, seria de esperar que o amor materno inato aparecesse imediatamente após o nascimento ou mesmo antes. Ora, esse não é o caso. Ao contrário, a ausência de amor materno frequentemente se exprime pela recusa em amamentar a criança, ou pela intenção de não ficar com ela. Se, no entanto, consegue-se, através de algum truque qualquer, colocar a criança no seio da mãe, é frequente que ela não queira mais se separar da criança. Por esta reflexão vamos definindo o amor maternal como algo a ser adquirido, mesmo porque reconhecemos também a possibilidade de ausência de amor materno nos atos diretamente hostis em relação à criança, os abandonos, os maus-tratos, quaisquer formas de infanticídio e, ainda, sevícias exercidas sobre a criança. É surpreendente ver que o infanticídio se produz, em geral, com o primeiro filho e mais frequentemente no caso de a mãe sentir aversão particular pela criança (por exemplo, porque o pai a abandonou). Em geral, o primeiro e o último filho ocupam posição especial: o primeiro, por suscitar na mãe afetos hostis os mais violentos (ele é geralmente criado mais severamente em função disso); o mais novo, por suscitar afetos positivos os mais intensos, é com frequência mimado e estragado.

São esses casos de amor materno e angústia excessiva que nos possibilitam concluir que “não existe amor materno inato”. Parece que é por meio da interação física entre a mãe e o bebê que é suscitado o amor materno. Supõe-se que os primeiros sinais de amor materno surjam na época dos primeiros movimentos do feto e das sensações prazerosas. Com a saída da criança, esse sentimento é perdido e é talvez aí que comece a aversão da mãe. Ao todo se pode dizer que as sensações do bebê devem encontrar um correlato nas sensações correspondentes da mãe. Se supusermos a existência do complexo de Édipo na criança, ele tem sua origem na excitação prazerosa provocada pela mãe; esta excitação pressupõe uma sensação igualmente erótica por parte da mãe. Em seguida, em certo período, a criança representa um objeto natural para a mãe; esse período coincide com a necessidade de cuidados com a criança. Após esse período, a criança deve ceder lugar ao marido ou eventualmente a outro filho.

(*) Psicóloga e psicanalista

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