ARTICULISTAS

Os sete senhores

Há algum tempo tenho passado sistematicamente por um aconchegante lugar

João Eurípedes Sabino
Publicado em 04/05/2012 às 20:08Atualizado em 19/12/2022 às 19:53
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Há algum tempo tenho passado sistematicamente por um aconchegante lugar do bairro Boa Vista. Nome do local: praça Santa Adélia.  Todas as quintas-feiras, em torno das 15h, lá estou eu ao volante contornado em sentido horário aquele polígono urbano, por onde passam as ruas: Santa Juliana, Maria Lopes Cardoso e Odete J. Silveira.

Ao estar ali, sempre vejo sete senhores sentados sob as sombras de frondosas Sibipirunas. Eles com seus olhares parecem me autorizar a passagem e eu comigo, de longe, lhes respondo em silênci Um dia falarei com vocês. É hoje, é amanhã, é hoje é amanhã... e esse dia chegou. Fui visitá-los.

Recepcionaram-me como se cultivássemos velha amizade. Depois de nos identificarmos mutuamente, entrei logo no assunto e perguntei: Qual de vocês saberia dizer-me há quanto tempo eu passo por esta praça?!”, respondeu-me de pronto o Sr. Gerson Bento da Silveira, militar reformado. Acertou, eu disse. A conversa rolou e contamos parte das nossas histórias de vida.

O primeiro anteriormente citado, com Antônio Borges da Mota (motorista), Geraldo Cândido do Nascimento (vigilante), José Ferreira da Costa (ferroviário), Gaspar Marques (téc. em eletrônica e poeta), Marcelo Lourenço Carvalho (vigilante) e Orlando Fachinelli (lavrador) ali se encontram diariamente num ambiente de paz. Pude constatar a perfeita harmonia entre os ocupantes da praça. De um lado aquele grupo de sete aposentados, do outro, jovens de bermudões e bonés falando baixinho, mais à frente mães brincando com suas crianças. O mundo seria melhor se todos respeitassem o espaço que o outro ocupa, como vejo na praça Sta. Adélia.

Voltando noutra data, notei que outros sete senhores revezavam com os primeiros e também foram receptivos comigo. Altivo Roque da Silveira (carpinteiro), Luiz Gonçalves da Silva (militar), Francisco Sebastião (pedreiro), José Ferreira da Costa (ferroviário), José dos Reis Pedra (militar), Meireles Fernandes de Paula (cabo corneteiro) e Osmar Araujo (pedreiro) formam uma comunidade que muitos gostariam de integrar. Não ouvi deles nenhum assunto desprezível. Pelo contrário, apesar da idade só conversam coisas focalizando o futuro num clima de liberdade. Mauro Ribeiro, protético em atividade e bem mais moço, considera-se parte do grupo. 

Caetano Veloso nos encanta quando canta: “A praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião”. É o caso da praça Santa Adélia.

Pensei em convidar aqueles senhores a se cotizarem comigo e darmos uma geral naquela pracinha, pintar suas árvores, bancos e meios-fios. Abortei a ideia porque esse gesto espontâneo de cidadania tem afrontado o Poder Público Municipal. Lamentável...

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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