Lamentavelmente, o homem não se dá aos cuidados de contemplar em si as mil belezas contidas nessa deslumbrante e perfeita obra do Criador. Somos todos de olhos cerrados ao maravilhoso dessa máquina que esconde misteriosamente em si as teclas que comandam as nossas fisiologias. Quanta inteligência se acha na ordenação do automatismo da respiração, nos movimentos das pálpebras, no descanso do sono, na construção dos ossos, nas movimentações peristálticas dos órgãos ocos, na assimilação dos alimentos, nas reparações teciduais, na identificação das células invasoras sinalizando-as para a defesa do organismo! Quanta sabedoria se encontra nos movimentos prementes do coração, na coordenação dos passos, no equilíbrio do corpo, na beleza dos órgãos dos sentidos, no impulso das lágrimas, no misterioso e complexo arquivo da memória! Como o Criador se lembrou de colocar nos órgãos de excreções os esfíncteres que se relaxam ou se contraem, regulando o trânsito de seu conteúdo? Não fossem eles, os esfíncteres da bexiga, dos intestinos, o que seria de nós? Não só especificamente o esfíncter dos intestinos, da bexiga. Também as nádegas que em momentos nos servem como almofadas, em outros, como tampões complementando os nossos cuidados higiênicos. Como o Criador se enriqueceu dessa ideia e onde e como encontrou essa matéria-prima fazer tantos pedaços dentro de nós? Se o homem desejar conhecer suas próprias coisas, imperioso se lhe tornará se debruçar sobre profundos estudos analisando a grandeza desse projeto. Logo por certo, o Criador percebeu que, ao final daquela laboriosa montagem, havia construído uma estátua magnífica, demais linda até. Algo lhe faltava, porém... Para não apenas ficar inerte como tantas outras estátuas, julgou juntar-lhe as formas frias, o calor da vida e o esplendor da inteligência. Mas, que pena!...Que pena, Senhor! Aquela estátua que o Senhor cuidou com tanto esmero hoje é um Homem, um ser estúpido, velhaco, mentiroso, viciado, descrente, criminoso, perverso, que faz de seu semelhante um alvo para bala. Que faz da vida para a sua alegria um lamaçal de sangue. Foi, Senhor, um tempo de trabalho cansativo e perdido. Uma decepção, com toda a certeza... Um inesperado, sem dúvida... Tudo foi um desperdício. Buscá-lo e jogá-lo novamente na argila em massa amorfa para reconstruí-lo diferente como o Senhor pensa seria provável solução salvadora do Vosso maravilhoso trabalho - mas, sem ensino, Senhor, tenho que melhor mesmo para o mundo seria voltá-lo e deixá-lo ao que merece: ESTÁTUA TÃO SOMENTE.
(*) Odontólogo; ex-professor universitário
