ARTICULISTAS

Perto do céu

Sou do tempo em que o juiz era considerado um semideus

João Eurípedes Sabino
Publicado em 27/04/2012 às 20:49Atualizado em 19/12/2022 às 19:59
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Sou do tempo em que o juiz era considerado um semideus. Incutiram-me essa distorção após os sete anos de idade, quando fiquei sabendo na escola que existiam as instituições e os seus respectivos dirigentes. Caía nas provas citarmos os nomes de todas as autoridades da Comarca. Então eu escrevia: “Os juízes são os Exmos. Srs. ..................”

Essa de achar o juiz um ser quase extraterreno levei comigo até o dia em que, numa sala, assisti um bate-boca entre dois magistrados da minha absoluta admiração. Ouvi coisas que o mundo jamais saberá através de mim. O constrangimento tirou-me o direito de ir, vir e ficar. Caiu ali por terra o juiz que eu trazia comigo desde criança e surgiu outro, de carne e osso, igual a todos os homens.

Os confrontos frequentes entre ministros do Supremo Tribunal Federal, convenhamos, mostram-nos que estamos sendo julgados por excelências dotadas de pensamentos, sentimentos e limitações nada diferentes do mais simplório cidadão. Publicamente, Joaquim Barbosa ataca Cézar Peluzo, tachando-o de tirano e violador de normas. Peluzo afirma que Barbosa é inseguro. Eliana Calmon revela que há bandidos atrás das togas. E as roupas sujas de casa são lavadas para todo mundo ver, ou melhor, um “barraco” é armado dentro do Palácio.

O certo é que a democracia está nos proporcionando oportunidade ímpar. Assistir rusgas de magistrados não é mais tabu e isso em tempo real é um vexame à parte. Oxalá a ira não domine o coração daqueles juízes e o ressentimento fique longe das suas decisões.     

Para muitos deles a jactância está acima da autocrítica. Daí surge a neblina mental, impedindo-os de ver com acatamento a sociedade à qual pertencem e que deverão julgar com isenção. Esse tópico é, a meu ver, um dos que fomentam a nossa insegurança jurídica.

Saudade dos tempos de JK, quando nós, alunos do curso Primário, tirávamos da capa do caderno frases do Hino Nacional para fazer reflexões. Nossos ministros do STF, por estarem “perto do céu”, poderiam pisar no chão e refletir sobre a frase: “Brasil, de amor eterno seja símbolo” e assim nos dar exemplo de paz...

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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