ARTICULISTAS

Estrepolia de um delegado

Uma palavra é capaz de definir o que fez um determinado delegado

Mário Salvador
Publicado em 10/04/2012 às 20:00Atualizado em 19/12/2022 às 20:17
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Uma palavra é capaz de definir o que fez um determinado delegado certa vez em Uberaba: estrepolia. A palavra, antes largamente usada no sentido de confusão, conforme Houaiss significa também travessura, grande balbúrdia, desordem; e uma variação da palavra (estripulia) era usada pelo povo.

Foi mesmo uma confusão enorme a provocada por um Delegado de Polícia, em 1975. Em dezembro daquele ano, o Presidente da ACIU, saudoso doutor Renê Barsan, esteve conosco no programa Roda Gigante para anunciar o nome do vencedor do concurso de logomarca para campanha de conscientização dos uberabenses sobre o ato de (não) dar esmola. Já narrei o episódio há pouco neste espaço. O uberabense, em vez de dar esmola, encaminharia o esmoler a órgão competente, que ampararia toda a família do necessitado.

O Juiz de Direito da Vara de Menores, doutor Luiz Manoel da Costa Filho, que entregaria o prêmio, só apareceu no final do programa, com ar bastante cansado, explicando que passara a noite na Delegacia atendendo a famílias que o procuraram, pedindo-lhe socorro. Foi uma noite difícil.

Retomo o assunto, porque a Câmara Municipal, nos seus 175 anos, publicou um caderno de jornal mostrando suas maiores conquistas. No caderno, uma notícia, em especial, nos chamou a atençã “Câmara Municipal barra repressão de Delegado – Campanha de repressão iniciada pelo Delegado da comarca, Marcos Peres Rodrigues de Carvalho, que leva à prisão 165 pessoas por falta de documentos ou por serem considerados insatisfatórios, chocou profundamente toda a cidade, uma vez que inúmeras pessoas, inclusive jovens de ambos os sexos pertencentes a famílias tradicionalmente conhecidas, foram detidas e levadas para o xadrez. (Conforme Lavoura e Comércio, 22 de dezembro de 1975.) O fato provocou forte reação da comunidade, dos partidos políticos Arena e MDB. Os partidos lançaram nota oficial de protesto, culminando com ampla reunião na Câmara Municipal, das 15h30 até quase 20h, entre prefeito, vice-prefeito, vereadores, delegados e comandante do 4° BPM.”

Estava justificado o atraso do Juiz. Quanto trabalho ele teve, naquela ocasião, por causa da estrepolia de um delegado...

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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