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Por que isso, Sócrates?

Os gregos são marcadamente os maiores formadores de opinião

João Eurípedes Sabino
Publicado em 06/04/2012 às 18:08Atualizado em 19/12/2022 às 20:22
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Os gregos são marcadamente os maiores formadores de opinião que os povos já conheceram. A Sócrates coube-nos aconselhar: “Conhece-te a ti mesmo”. Aquele pensador, perseguido e morto por pensar livremente, indicou-nos a mais promissora conquista, porém a mais difícil. Sabendo do nosso livre-arbítrio e grande potencial é que nos apontou o caminh “Conhece-te”.

Existe, entretanto, um ponto fundamental que Sócrates nos sonegou. Mostrou-nos o rumo, mas não nos deu o mapa do caminho. Para ele, que há ± 2.470 anos era um cientista, não foi um senhor bem profissional. Se o local a alcançar (mundo interno) é tão profundo e a estrada a percorrer (vida) tem tantas etapas, variações, abismos, pontes, subidas e descidas, paradas, mau tempo, interferências etc., etc., necessário seria um bom indicativo. As paisagens (momentos felizes), horizontes (projeções), belas cachoeiras (metas alcançadas), mananciais (realizações), vegetações (filhos), natureza (profissão), pureza (família) etc., também omitidas, deveriam constar do dossiê turístico de Sócrates. Esse “vade mecum” simplesmente inexiste. O sábio grego convidou-nos a um voo cego.

Conhecer a si mesmo não pode partir de um simples conselho; assim pareceria fácil. E Sócrates conheceu a si mesmo? Platão não diz, por quê? Alcançar esse tesouro tão sonhado é possível, mas pode ser inatingível se para consegui-lo não tivermos um método de investigação e técnicas para conquistá-lo. Há que se realizar em si mesmo um científico Processo de Evolução Consciente; estudando o que se experimenta e experimentando o que se estuda.

Por que nasci de meus pais e não de outros? Quem é Deus para mim? Quem sou? Por que penso e sinto? De onde venho e para onde vou? São inquietudes que incomodam o juízo e carcomem milenarmente o gênero humano. Para uns são respondidas com os dogmas e para outros com o silêncio. O conhecimento de si mesmo desvenda esses mistérios.

De que adianta conhecer o metabolismo biológico do meu ser, se desconheço o ente metafísico que me anima? O tempo passa e o homem continua reinando. Avança tanto e chega ao 3º milênio sem descobrir um remédio para a calvície ou a celulite. Permanece também estranho a si mesmo.

Usar conscientemente as faculdades da mente englobando-se os sistemas; mental, sensível e instintivo e mais, identificar-se com o fio da própria herança espiritual é ter a certeza de que o verdadeiro “conhece-te a ti mesmo” está ocorrendo. Não há recompensa melhor do que ter essa certeza.

O autoconhecimento implica em ter um governo sobre os próprios pensamentos e sentimentos. É aproximar-se do Criador pelo conhecimento comprovando a nossa semelhança metafísica com Ele. É entender o porquê de merecer certas oportunidades e ser vetado para outras. É compreender a supremacia das Leis Universais e saber que tudo passa por esse Crivo Superior. É ir em busca da razão das “coisas” e não acomodar-se na masmorra do “porque sim”. É sentir que a vida é uma espiral e o amanhã será o hoje em proporções inferiores ou superiores, dependendo das nossas ações. É forjar um novo destino.

Sem a pretensão de colidir-me de frente com o monumento Sócrates (que, aliás, nada deixou escrito), eu acrescentaria: - Você sabia demais para apenas dizer o “conhece-te a ti mesmo”. No popular Você disse: “ESTA É A ESTRADA; VIRE-SE...”. Por que isso, Sócrates?

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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