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Os crepusculares

Saga Crepúsculo, The Vampire diares, True blood, Eclipse, Vamp e tantos outros

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 28/12/2011 às 19:35Atualizado em 19/12/2022 às 20:49
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Saga Crepúsculo, “The Vampire diares”, “True blood”, Eclipse, Vamp e tantos outros de sucesso garantido entre os jovens tratam de romances entre vampiros e seres humanos, que sendo vítimas se tornam eles também vampiros: são esvaziados de seu sangue e, ao mesmo tempo, contaminados. Segundo a tradição, vampiros são mortos que supostamente saem de seus túmulos para sugar o sangue dos vivos. O fantasma atormenta os vivos pelo medo, o vampiro os mata tirando sua substância: só consegue sobreviver graças à sua vítima.

De rara beleza, o vampiro atrai pela aparência etérea; relativa ao éter – sublime, puro, elevado ou ainda celeste, celestial. Ele representa o apetite de viver, que renasce tão logo é saciado e que se esgota em se satisfazer em vão, enquanto não for dominado. Sendo doce e sublime não ameaça as jovens com uma volúpia carnal agressiva e invasiva. Estas se entregam passiva e delicadamente para serem então consumidas e destruídas. O mito abre a possibilidade do erro nas escolhas tão presentes na existência adolescente. É uma advertência contra a valorização excessiva da aparência em detrimento da essência, entre o pavor de ser penetrada levando ao ser esvaziada pelo sugar.

A interpretação deste mito se baseará na dialética do perseguidor/perseguido, do devorador/devorado, da fome insaciável, servindo de suporte para projeções canibalísticas. Através dele, o homem revive desejos primitivos e incontroláveis de fome devoradora, atualizados na sua imagem: se é ele, não sou eu que desejo destruir e, principalmente, a mim mesmo. Sabemos então que esta transferência ao outro (o vampiro) nada mais é do que autodestruição liberada da repressão pelo deslocamento do objeto.

Em outras palavras dizemos que o ser se atormenta e se devora a si mesmo enquanto não se vir responsável por seus próprios fracassos, usando o outro como projeção das fragilidades do seu eu. Quando ao contrário, o homem está plenamente assumido, quando exerce plenamente sua responsabilidade, quando aceita sua sorte de mortal, o vampiro desaparece. Ele só existirá enquanto este problema de adaptação consigo mesmo ou com o meio social não estiver resolvido. Nesse caso, somos psicologicamente corroídos... devorados, e nos tornamos um tormento para nós mesmos e para os outros. O vampiro simboliza uma inversão das forças psíquicas contra nós mesmos.

(*) Psicóloga e psicanalista

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