ARTICULISTAS

Esse é o meu sítio?

Um contador de causos ouviu e me contou que o escritor Monteiro Lobato, certa vez, recebeu de um amigo

João Eurípedes Sabino
Publicado em 23/12/2011 às 20:36Atualizado em 19/12/2022 às 20:52
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Um contador de causos ouviu e me contou que o escritor Monteiro Lobato, certa vez, recebeu de um amigo o seguinte pedid - Sr. Monteiro, eu quero vender meu sítio e gostaria que o senhor redigisse para mim um anúncio, pois vou publicá-lo no jornal da cidade. Quanto o senhor me cobra? - Deixe-me os dados sobre o sítio e venha buscar o anúncio depois. Não vou lhe cobrar nada por isso - respondeu o atencioso escritor.

Constava da descrição fornecida pelo proprietári “Sítio de 7 alqueires, possui estrada, com muita água, cachoeira, lagoas, açudes, pastagens e gado. E ainda, toda cercada, com currais, cocheira, casa sede, pomar, paiol etc.”.

Monteiro Lobato com a sua incomum argúcia, sutilmente colheu outros dados do imóvel e, olhando o amigo de soslaio, perguntou-lhe sem exigir a resposta: - Você quer mesmo vender o seu sítio? E findaram a conversa.

O amigo partiu e, no dia combinado, retornou à casa do escritor. Bom dia, senhor Monteiro; fez a minha encomenda? Perguntou o visitante. – Bom dia. Sim, fiz a sua encomenda e aqui está ela. Veja o seu conteúdo.

De posse do anúncio escrito por Monteiro Lobato, o dono do sítio leu o seguinte: “Vende-se um belo sítio dotado de extrema beleza onde mora a felicidade. Pode-se chegar até ele por ótima estrada. Lá existem águas abundantes formadas por córregos, açude, uma bela cachoeira e muito peixe. Nos fundos, há uma pequena mata contendo madeiras de lei aonde pássaros fazem morada, além de promover intensa sinfonia. O sol ao nascer traz uma paisagem emocionante e, no poente, desenha um colorido indescritível no céu. O gado durante todo o ano apascenta em verdejantes culturas. A casa sede é, sem dúvida o que se pode chamar de moradia encantada. No pomar, suculentas frutas que se revezam em variadas safras. E ainda...”

Como se vê, o proprietário do sítio parou bruscamente a leitura do anúncio e disse: - Seu Monteiro Lobato, espere um pouquinho. Esse é o meu sítio? - Sim; é exatamente o seu sítio - respondeu o escritor.

- Eu não sabia que a minha modesta propriedade era tão bonita assim. Olha, seu Monteiro, o meu sítio não está mais à venda depois dessa moldura que o senhor colocou nele.

- Sim, amigo. Às vezes não enxergamos o valor do que está tão próximo de nós e vemos só o que está distante. É o caso do seu sítio. Conserve-o.

Um anúncio que li dia desses num jornal informando a venda de um belo sítio, inspirou-me a colher as informações sobre ele e escrever este texto. Espero que o dono não o tenha vendido.

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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