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Céu prometido

Quando a saudade não quer, não há passado que passe

Manoel Therezo
Publicado em 17/12/2011 às 21:09Atualizado em 19/12/2022 às 20:58
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Quando a saudade não quer, não há passado que passe.

Nasci em uma fazenda perto de Jardinópolis (S.P). Por ali fiquei até os 10 anos. Fui sempre sozinho com os meus brinquedos simples. Tinha um estilingue. No cabo marcava os pássaros que havia matado. Quantas mentiras!  Tinha um pneu que sempre estava ao meu lado, fosse onde eu fosse. Era uma criança medrosa, como todas da roça. O meu grande medo era do Saci Pererê e da Mula sem Cabeça. Em razão disso, não ia muito longe. Sempre ficava no pomar, onde mantinha algumas arapucas armadas. Nunca peguei pássaro algum – somente franguinhos. Certamente, menos inteligentes. Depois do almoço, minha mãe queria que eu dormisse. Não tinha sono como ela queria – mas, uma criatura que não me esqueço, chamada por nós de GUINÉ, punha-me em seu colo e cantarolava baixinh “Eu tenho uma casinha pintadinha de carvão, lá dentro nós fazemos bons docinhos de limão. Quiricóqué, Quiricóqué, pro  menino da GUINÉ”. Hoje, aos meus 83, por vezes me surpreendo cantaroland Eu tenho uma casinha, pintadinha de carvão... Sempre à noite, minha mãe me punha em seu colo e me beijava muito. Eu também lhe fazia o mesmo e hoje choro por não lhe haver beijado mais. Depois de lhe perguntar inocentes coisas, disse-me que aquele azul que eu falava, era o CÉU – um lugar muito bonito, que ficava bem pra lá das nuvens, muito distante de nós. Lá moravam os anjos, os santos e DEUS. Falava de tudo. Dos pássaros, dos jardins, das flores com seus inebriantes perfumes, mas, que para merecê-lo, era preciso ser “BOM, MUITO BOM, meu filho”. Aquela grandeza para o BOM filho ficou na minha lembrança com

         ============CÉU PROMETIDO============          

                  Pasma-me   aos  olhos,  a imensidão do CÉU!...

                   Mesclado de nuvens e de astros brilhantes,

                   Curvado parece beijando os montes

                   Lá nos confins, em acetinado véu.

                                                  

                                                        Como interrogo tamanha grandeza!

                                                        Há de por certo em seu todo conter,

                                                          Um  outro  mundo que no meu entender,

                                                        Possa até ser o que minh’alma enseja.

         Mas, se por tudo estiver eu errado.

         E, mundo algum por lá se achar contido,

         Silêncio, Senhor!... Deixa-me enganado

                                                       

                                                        Admirar essa grandeza e crer,

                                                        Que ela existe como CÉU PROMETIDO,

                                                        Não simplesmente para astros conter.

                                                                                                      

(*) Odontólogo; ex-professor universitário (Odonto Uniube)

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