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Sem a pureza daquelas...

Já se fazendo um bom tempo e bem dentro da noite, ocasionalmente assisti pela televisão

Manoel Therezo
Publicado em 10/12/2011 às 19:31Atualizado em 19/12/2022 às 21:04
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Já se fazendo um bom tempo e bem dentro da noite, ocasionalmente assisti pela televisão uma reportagem sobre os inúmeros Campos de Nudismo dentro da cidade de São Paulo. Encontram-se neles, belos alojamentos até de estrangeiros, quando foi focalizado o de uma família da Argentina que, de tempo em tempo, vem para cá ficar desnuda, enquanto em muitas aldeias indígenas, todos se acham vestidos. Já nem mais me lembrava dos Campos de Nudismo. Certamente, esse esquecimento parece natural porque, hoje em todas as praias em que o mar joga as sua ondas, lá estão elas peladas. Também entre elas, aqueles outros.  Quanto a esses, nada sei dizer. Não porque tal coisa exija lá, espetacular raciocínio e sim porque, nenhuma razão justifica um homem postar-se desnudo para ser contemplado. Para os homens vestidos, isso fere frontalmente os melindres sérios e civilizados. Quanto àquelas mostrarem o que deveria estar escondido, também para a mulher vestida, assume o mesmo sentido. Verdade se tem que o exemplo de hoje rege o comportamento no amanhã — daí, a continuação de tantas coisas estranhas — até da existência ainda dos Campos de Nudismo porque, sem precisar deles, muitas criaturas femininas vêm perdendo dia-a-dia, não só a vestimenta como adorno, como também, aceleradamente o pudor. Quando se assiste a um “Nu Selvagem,” um nu das tribos primitivas, um grande senão separa aquele nudismo do de hoje. Esse diferente é a beleza de uma inocência como se lê em um trecho da longa e detalhada carta de Pero Vaz de Caminha, por ocasião do descobrimento do Brasil. “Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas: e nisso tem tanta inocência como mostrar o rosto. Ali veríeis galantes pintados de preto e vermelho e quartejados, assim nos corpos, como nas pernas que certo, pareciam bem assim. Também, andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres nuas como eles, que não  pareciam mal. Entre elas, andava uma com uma coxa do joelho até o quadril e a nádega, toda tinta naquela tintura preta; e o resto, tudo na sua própria cor. Outra trazia  ambos os joelhos com as curvas tintas e, também os colos dos pés; e suas vergonhas, tão nuas e com tanta inocência descobertas, que nisso, havia vergonha alguma. Também andava aí outra mulher, com um menino ou menina ao colo, atado com um pano (não sei de que) aos peitos, de modo que apenas as perninhas lhe apareciam. Mas  as pernas da mãe e o resto não traziam pano algum. Deste Porto Seguro, da vossa ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro de Maio de 1500. Beijo as mãos de Vossa Alteza, Pero Vaz de Caminha”.  Hoje, os que nos Campos de Nudismo se mostram despidos e aqui entre nós se apresentam vestidos, certamente são seres não bem formados. Não sabem ainda o que são, concebendo a existência de dois mundos para neles viverem a seu “bel-prazer”. Postar-se nu para os lindos trabalhos de arte e pintura como se os tem assistido, longe de qualquer imitação, expressa uma beleza colorida no quadro do nu artístico. Aquelas dos Campos de Nudismo, das praias, das revistas, das passarelas, nos colocam no direito da indignação e de interrogar, por que, querem mostrar a nós vestidos e civilizados, as suas vergonhas Sem a pureza daquelas inocentes criaturas? 

(*) Odontólogo; ex-professor universitário (Odonto Uniube)

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