ARTICULISTAS

Brasília mal cuidada

Eu gostaria de, sinceramente, ocupar meu tempo com outra escrita

João Eurípedes Sabino
Publicado em 09/12/2011 às 20:19Atualizado em 19/12/2022 às 21:05
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Eu gostaria de, sinceramente, ocupar meu tempo com outra escrita que não fosse sobre uma Brasília mal cuidada. Quantos veículos caem aos pedaços e, pelo que sei, os cronistas raramente lhes dedicam textos. Noutra oportunidade escreverei sobre uma Brasília bem cuidada, quem sabe, a dos Mamonas Assassinas, grupo musical falecido tragicamente no dia 02/03/1996.

A Brasília da qual falo, não é um veículo abandonado, e sim a nossa capital federal. – Ela está mal cuidada? O que é isso! – diriam alguns que com ela convivem e não a veem dessa forma.

O status que Brasília ostenta e o dinheiro torrado para mantê-la contrastam com algumas cenas corriqueiras que anotei do seu diário viver. Por exempl É difícil entender o porquê de pessoas morarem há meses sob uma grande árvore em plena avenida W4; isso a 8 minutos da Esplanada do Ministérios. Uma delegacia de polícia sem energia elétrica por mais de 12 horas, abrigando parte dos policiais mais bem pagos do País. Posseiros chiques e intocáveis avançam sobre a capital. O mosquito Aedes aegypti é ameaça constante e a população mendiga por saúde nas cidades satélites. Ratos fazem a festa no Plano Piloto e relevos de lixo alteram a paisagem urbana. Como se não pudéssemos ficar sem eles, os assaltantes aterrorizam o povo ordeiro, ditando que o mundo é deles. Assisti a uma longa audiência no fórum e, pasmem, o juiz não apareceu (!!!). O trânsito em Brasília literalmente já experimenta o caos. Etc. Como se vê, os problemas lá fazem contraponto com os daqui, dali e de acolá, apesar de nos “venderem” a imagem de outra cidade.

Quem só navega em “águas limpas” ou sob “sol de brigadeiro” no Distrito Federal, consegue ver um bonito castelo com fachada hollywoodiana, mas, se der a volta pelos fundos, verá a triste realidade escondida. A cidade paixão de JK saiu há tempos das previsões de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Uma coisa gritante lá que não temos aqui: cavalos e éguas quase esqueléticos arrastam pesadas carroças e, como prêmio, recebem “suaves” chicotadas. E ninguém vê essa barbaridade!?! Denise Max ficará indignada.

Há alguma esperança em Brasília: Bibliotecas comunitárias nos pontos de ônibus da avenida W3, os cuidados especiais dedicados ao idoso e o respeito ao pedestre no trânsito, no meu modesto ver, ainda fazem dela uma cidade diferente.

A saudade da terra natal com uma “pontinha” de carência, ambas cultivadas pela imensidão de seres idos para lá, me parecem unir grande parte das pessoas que vivem em Brasília.

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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