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O mundo das formigas saúvas

Vivem as formigas Saúvas no mundo dos insetos, na mais refinada organização social

Manoel Therezo
Publicado em 03/12/2011 às 20:39Atualizado em 19/12/2022 às 21:10
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Vivem as formigas Saúvas no mundo dos insetos, na mais refinada organização social, maravilhando os pesquisadores. Na década de 40, uma campanha do Ministério da Agricultura exortava: “Ou o Brasil acaba com a Saúva, ou a Saúva acaba com o Brasil.” Desnecessário dizer que não aconteceu nenhuma das duas coisas. A manifestação foi do senhor August Saint-Hilaire. Era a ideia de uma guerra sem quartel entre duas formas de vidas plenamente desiguais – homens e formigas.

O tempo se passou e a preocupação com os estragos provocados por elas serviu de estímulo a estudos cuidadosos sobre aqueles insetos e de sua mais invejável organização social. Lemos que no reino (insetos) as formigas saúvas são os mais evoluídos. Estão dotadas de extraordinária capacidade de adaptação a qualquer ambiente, com estratégia de sobrevivência baseada numa espetacular divisão de trabalho, que deixaria embasbacado o maior administrador de empresa.

Vivem há mais de 100 milhões de anos. Um fóssil de saúva encontrado numa resina vegetal no Mar Báltico, no norte da Europa, prova que a sua existência começou muito antes de o homem aparecer sobre a terra. Segundo Mário Autuori, que se dedicou por mais de 50 anos pesquisando as saúvas, diz que certa espécie possui um cheiro semelhante ao do limão. Há entre elas uma distribuição magnífica e respeitada de trabalho, quando as formigas cortadeiras e as transportadoras constituem o sustentáculo do formigueiro.

As cortadeiras derrubam enorme quantidade de folhas porque dez formigueiros consomem 210 quilos de folhas picadas por dia. São elas as cortadeiras, sofredoras ao ataque de certos tipos de moscas, que colocam seus ovos em seu abdômen para a proliferação. São obrigadas ao socorro das formigas operárias que se atarracam sobre as costas daquelas para afugentar as moscas impertinentes, agitando sem cessar as suas patas. Enquanto cortam, as transportadoras se obrigam a carregar, sem reclamar das folhas várias vezes maiores que seu tamanho.

No caminho de casa, as rainhas deixam na trilha por onde hão de passar uma secreção do perfume da colônia que serve como código de orientação, também indicando a quantidade de alimento existente no formigueiro, a distância em que estão do formigueiro, até o número de operárias que devem parar de trabalhar e se dirigir para a alimentação. Esse odor que caracteriza o sauveiro serve ainda como identidade química aos guardas nas várias entradas do ninho.

Como verdadeiros (leões de chácara), não hesitam em matar uma saúva doutro formigueiro com cheiro diferente. A esses guardas também cabe a obrigação da retirada de tudo que impeça a ventilação, tudo que impeça a entrada de alimentos, como também de regular o recebimento de alimentos. Todas têm o dom de prever as tempestades, trabalhando em ritmo acelerado, sem que tenham recebido qualquer determinação. Os grandes salões sauveiros se acham cercados por túneis, de forma que não são atingidos pelas águas das chuvas.

Cada saúva efetua uma tarefa específica, sem privilégio algum. As caçadoras carregam larvas de insetos para o formigueiro. As açucareiras, o néctar das flores. As operárias jardineiras picam e repicam em partes cada vez menores os pedaços de folhas, retirando também os fungos mortos e as folhas secas, para manter o ambiente sempre limpo. As faxineiras são encarregadas de comer os cadáveres de certos animais. Nada de sexo – essa atividade é exclusiva das rainhas. Os soldados combatentes são as fêmeas. Trocam por espontaneidade os seus órgãos reprodutores por um abdômen repleto de bombas biológicas, que explodem o próprio corpo para lançar o veneno sobre o adversário. Constituem as saúvas uma sociedade organizada, invejável, grande exemplo aos homens que deixam sua empresa exposta às portas da falência por ausência de organização, trabalho e seriedade por vezes.

Condensados de várias revistas e livros

(*) Odontólogo; ex-professor universitário (Odonto Uniube)

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