ARTICULISTAS

Atrás de uma bola...

Atrás de uma bola vem sempre uma criança. Frase que alguém disse e de nunca nos esquecemos

João Eurípedes Sabino
Publicado em 25/11/2011 às 21:25Atualizado em 19/12/2022 às 21:14
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“ATRÁS DE UMA BOLA VEM SEMPRE UMA CRIANÇA.” Frase que alguém disse e de nunca nos esquecemos quando esse quadro acontece.

Belo entardecer de domingo – avenida Guilherme Ferreira – sigo em velocidade compatível, filas de carros indo e vindo. De repente, sou obrigado a parar na própria faixa de tráfego. O único sinal que pude acionar foram as luzes de freio do meu veículo. Atendi ao Artigo 42 do Código de Trânsito Brasileiro.

Olhando no retrovisor, constatei que, atrás, vinha um belo importado. Ao me ver parado, o seu condutor entra pela direita, para bruscamente e solta um brado para não dizer “berro”: - Ô, CARA, VOCÊ FICOU LOUCO? “CÊ” ME PARA NUM LUGAR DESSE! QUER MORRER!?

- Não, amigo - respondi-lhe. - É que à nossa frente cruzou uma bola e atrás vem correndo uma criança, você viu?

Silêncio sepulcral...

Com os filhos dentro do carro e a esposa ao lado, aquele motorista apoiou os cotovelos no volante, baixou a cabeça e expressou-me o mais triste olhar. Ficou mudo e reconheceu-me. Não precisou dizer-me nada. Captei o seu pedido de perdão mesclado com o arrependimento e a decepção consigo mesmo, já que somos amigos há três décadas.

Tudo em fração de minuto.

Os pais do menino, atônitos, retiraram-no da pista junto com o seu brinquedo. Voltei-me ao amig - Tá desculpado, Doutor (...), e parti.

Até agora estou inculcado. Aquele belo utilitário japonês continuou parado, inerte na pista, enquanto pude vê-lo pelo espelho. Será que o condutor, um respeitável profissional liberal, fora pego de surpresa? A família fez-lhe alguma cobrança?

De uma coisa eu tenho absoluta certeza; os pensamentos - deficiências psicológicas - que o autorizaram a agir daquela forma, no momento exato fugiram, deixando-o “falando sozinho”. Tiraram-lhe o argumento, já que os fatos falaram mais alto. Trânsito é isso, mas não deveria.

Eu, apesar de estar num nacional, saí dali em absoluta paz, pois mereci um momento de ímpar grandeza. Experimentei a felicidade por ter evitado talvez a perda de uma vida.

Imediatamente fluiu-me este pequeno artigo.

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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