Mudanças sutis

É profundamente fascinante a velocidade com que o mundo tem evoluído e o quanto nosso comportamento está se aperfeiçoando através disso.

Houve um tempo em que o Brasil e o resto do mundo cuspiam no chão. Eram comuns as indefectíveis escarradeiras, em um canto da sala, à disposição das visitas. Um hábito tão desagradável que, quando a China foi sede das Olimpíadas, em 2008, houve um tremendo esforço do governo para bani-lo.

No Brasil, felizmente, as campanhas para erradicação desse hábito começaram mais cedo. Aqui, as autoridades realizaram uma intensiva campanha. Cartazes foram espalhados pelas cidades, com os sugestivos dizeres: “Cuspir e escarrar no chão é falta de higiene e de educação.” Os resultados foram duradouros.

Outra antiguidade que já não existe é a Maria Fumaça, movida a lenha, cujo uso, se continuasse, teria consumido muitas florestas. O atestado de óbito desse meio de transporte veio no governo de JK, presidente que, para apoiar a instalação de montadoras no país, construiu mais de três mil quilômetros de rodovias.

O progresso que trouxe o fogão a gás quase sepultou o fogão a lenha. Ficam na memória o gostoso calorzinho deste nos dias mais frios e a ardida fumaça da lenha verde... E é por essa saudade de uma vida mais simples que, em algumas casas, se conserva o fogão a lenha para ocasiões especiais. A comida preparada nele é bem mais saborosa. Talvez seja o tempero da saudade.

Também se recebiam e pagavam visitas, costume que a vida moderna, corrida, aboliu. Um dó. Em compensação, a internet, o celular e os tablets uniram o mundo todo.

Como as coisas ruins de outrora se foram, é certeza de que, um dia, a corrupção, mesmo que continue a existir, fique fora de moda. Tudo passa. Cidadãos já se manifestam, e o grito do povo se faz ouvir.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro