ARTICULISTAS

Em guerra

Em países conturbados, frequentemente homens-bomba acabam com a própria vida

Mário Salvador
Publicado em 01/11/2011 às 20:14Atualizado em 19/12/2022 às 21:36
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Em países conturbados, frequentemente homens-bomba acabam com a própria vida e com a de muitas outras pessoas. É grande o número de atentados e de mortes. No Brasil, felizmente, no sentido denotativo da palavra, não temos homens-bomba, com disposição de se imolarem por uma causa que julguem justa e merecedora desse sacrifício. Mas, pensando no número de mortos no trânsito, podemos metaforicamente dizer que temos, sim, alguns homens-bomba. E eles têm uma poderosa arma na mã o volante do automóvel.

No ano passado, 64,8 milhões de veículos rodaram estradas brasileiras: 37,2 milhões de automóveis, 16,4 milhões de motocicletas, além de caminhões, ônibus e utilitários. E o país computou 40 mil vítimas no trânsito. Conforme levantamento feito por técnicos nessa área, a maioria dos acidentes foi causada pela insensatez de motoristas alcoolizados. E muitas das 146 mil vítimas de acidentes no trânsito encaminhadas a hospitais acabaram morrendo e, curiosamente, conforme nos esclareceu um policial rodoviário, não entraram nas estatísticas, pois só são consideradas como mortes no trânsito aquelas que ocorrem no local do acidente.

É neste sentido que estamos em guerra: sofremos danosas consequências de irresponsáveis ao volante. Observando os números, imaginamos que a guerra no trânsito seria quase que inevitável. Entretanto, nem é preciso sermos estudiosos da matéria para apontar algumas soluções para esse problema: campanhas de conscientização para que motorista e pedestre se respeitem mutuamente e obedeçam à sinalização; estudo para melhor viabilização do trânsito em ruas e estradas, conforme sugestões da população, principal interessada em que o trânsito flua seguro e tranquilo; sinalização adequada; fiscalização rigorosa e intensa em ruas e estradas; leis de trânsito mais rígidas e punição severa ao infrator.

Amanhã, Finados, famílias renderão homenagens a parentes e amigos mortos. Muitos desses entes foram vítimas da guerra no trânsito. E, além dessas vidas que se perderam, não há como nos esquecermos de que muitas das vítimas sobreviventes ficaram parcial ou totalmente inválidas. Definitiva ou, com um pouco mais de sorte, temporariamente.

E há ainda as vítimas indiretas dos acidentes: pessoas próximas ao acidentado, que, em geral, também têm que reestruturar suas vidas para poder ajudar a vítima enquanto ela se recupera, ou para redirecionarem o cotidiano sem o trabalho daqueles com quem antes podiam contar, ou ainda para se reorganizarem face às inevitáveis novas despesas.

Todos desejamos que a guerra no trânsito vire passado e que se estabeleça a paz. Todos temos direito a um futuro sem cicatrizes de um problema que não precisaria ter tomado esse vulto. Protelar as urgentes providências é ignorar os direitos dos cidadãos.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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