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Buracos

A humanidade vive às voltas com buracos. Às vezes eles representam um refúgio

Mário Salvador
Publicado em 25/10/2011 às 20:23Atualizado em 19/12/2022 às 21:42
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A humanidade vive às voltas com buracos. Às vezes eles representam um refúgio (“A vontade era enfiar a cara num buraco.”), outras vezes, adquirem uma conotação negativa (“Abriu-se um buraco na economia do país.). Refletindo sobre o assunto, selecionamos alguns dos diversos significados desse vocábulo.

É comum enfrentarmos fases de vazios interiores, verdadeiros buracos que surgem quando a vida nos prega peças. Sair desses buracos, com ou sem ajuda de terceiros, pode significar fortalecimento do espírito e nova forma de vermos o horizonte.

E um dos passos decisivos em nossa trajetória experimenta o humor nesta metáfora: “O casamento é um buraco onde todos vão cair. Quem está fora quer entrar; quem está dentro quer sair.” A ideia pode parecer um exagero. Mas é uma realidade para muitos.

Histórias de guerra contam que soldados abrem trincheiras, escavações que servem de abrigo aos combatentes, ou que consolidam avanços em território inimigo. E os guerreiros que se protegem nesses buracos às vezes ficam neles para sempre.

Em nosso cotidiano, veículos em trânsito caem nos buracos que aparecem em vias públicas. Quando não são os buracos que engolem os veículos...

E o universo nos presenteia com buracos negros, corpos celestes de cujo campo gravitacional nada pode escapar, nem mesmo a luz. Com esses buracos negros, o universo supera todos os recordes do homem, que, aqui na Terra, cavou enormes buracos, ou, em outras palavras, fez escavações, à procura de minérios valiosos. Ou, quando foi o caso, já encontrou buracos prontos, as cavernas, que já soterraram tantos mineradores. Em sua obra, o poeta Carlos Drummond já retratara os buracos da mineração de sua Itabira.

Nos últimos tempos, os dois buracos mais famosos têm sido aqueles que serviram de refúgio aos dois homens que comandaram com mãos de ferro os destinos de dois países: Saddam Hussein (Iraque) e Muammar al-Gadaffi (Líbia). Esses dois homens, que tiveram poderosamente nas mãos o destino de tantos e viveram no luxo dos palácios, terminaram buscando refúgio em buracos, em algum dos sentidos que esse vocábulo encerra, na tentativa de salvarem a própria vida, depois de descobrirem que o poder não é eterno.

São muitos os poderosos que puseram termo tragicamente aos seus dias de glória. Quanto maior a ascensão, maior pode ser a queda. E se muitos não se esconderam num buraco, em geral é um buraco que acolhe os restos mortais de todos. Com um pouco de sorte.

Quer tenhamos assumido o poder, quer nunca tenhamos tido essa vontade, um dia deixaremos a vida terrena. Resta a todos o consolo de que aqueles que agem com hombridade se tornam conhecidos por seu caráter e farão jus a uma lápide digna aqui na terra, quando, enfim, com uma tacada certeira, conquistarem o último buraco da sinuca de suas vidas.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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