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A volta do monstro

A inflação chega a 7,3% ao ano e é a maior desde 2005. O monstro da inflação despertou

Mário Salvador
Publicado em 11/10/2011 às 19:56Atualizado em 19/12/2022 às 21:54
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A inflação chega a 7,3% ao ano e é a maior desde 2005. O monstro da inflação despertou de seu sono e chegou sorrateiramente, para dilapidar patrimônios, corroer salários, infernizar nossa vida e tomar de assalto o bolso de todos, inclusive o do governo.

Percebemos o tamanho da inflação, quando, ao pagarmos uma compra em estabelecimento comercial, subtraem-nos do troco entre um e 30 centavos. Outras vezes somos nós que deixamos de pagar esses valores ao operador de caixa. Também acontece de ouvirmos: “Vou ficar lhe devendo dez centavos; estou sem troco.” E o Código de Defesa do Consumidor? Os centavos faltosos em nosso troco parecem insignificantes. Esse é o primeiro indício da volta do monstro da inflação.

Já conhecemos, de outros tempos, a inflação galopante, que o Plano Real conseguiu frear. O valor do pão num dia não era, antes do plano, o mesmo do dia seguinte. Se não difícil vermos o preço do pão congelado, mais fácil era congelarmos o pão. A mesma importância de um dia não nos permitia levar para casa, no dia seguinte, a mesma quantidade de pães.

No comércio, por obra de uma economia acintosa, funcionários criavam calos nos dedos, colocando preços novos, com suas maquininhas, em estoques nem tão antigos. (Hoje, não havendo necessidade de se colocar o preço em cada produto, a atualização é feita nas máquinas dos caixas, o que diminui a afronta ao cliente menos atento.)

Empresários deixavam de cuidar da produção de suas empresas para estudarem, com gerentes de bancos, melhores índices de rendimento para o então chamado overnight: o bolo crescia à noite nos cofres dos bancos.

Muitos cidadãos venderam imóveis para colocarem o dinheiro na poupança, que garantia rendimentos estratosféricos. Iludidos pelos rendimentos das aplicações, custava-nos enxergar a massacrante perda do valor aquisitivo da moeda. E ainda naquela época, ninguém se sentia motivado a recolher moedas que por acaso caíssem ao chão, pois quase nada valiam.

O mirabolante Plano Collor congelou poupanças e contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas, impondo-nos um inútil sacrifício, pois a inflação ignorou as peraltices financeiras do Presidente, que foi cassado, mas, graças à nossa curta memória, entrou no Senado pela porta da frente: com o voto do povo.

Os dirigentes que elegemos e a quem pagamos religiosa e razoavelmente (Nenhum deles precisou entrar em greve para receber aumento.), comprometendo nossos parcos salários, infelizmente andam tão ocupados, que não têm tempo de se responsabilizarem por manterem a inflação dormindo. Se a têm deixado prosperar, é porque ou esse serviço ou o salário deles deve estar sendo desproporcional ao que esperavam. E ficamos aqui pensando se nós, o povo, não estamos exigindo muito de nossos dirigentes.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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