ARTICULISTAS

O que tem feito a mulher?

De um apartamento na Capital Federal voltado para a Av. W4, no silêncio da madrugada

João Eurípedes Sabino
Publicado em 07/10/2011 às 20:43Atualizado em 19/12/2022 às 21:58
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De um apartamento na Capital Federal voltado para a Av. W4, no silêncio da madrugada, eu observava o ermo estacionamento do UNICEUB – Centro Universitário de Brasília. À minha frente um outdoor informava que, no dia 09/10/11, os times do Flamengo e CEUB se defrontarão em quadra como campeões de basquete nos últimos cinco anos. Bom seria se adiassem o evento.

Foi impossível não refletir sobre o que aconteceu naquele mesmo pátio no dia 30/09/11. Dali o professor de Direito Rendrik Vieira Rodrigues retirou com vida a universitária Suênia Sousa de Farias e a matou a alguns quilômetros dali. Por mais que aquela universidade se esforce, ela nunca mais será a mesma. Pela manhã, observei que o entra e sai de alunos ali era marcado pelo silêncio e feições entristecidas. Uma bandeira da escola a meio mastro indicava: “Estamos de luto.”

O que tem feito a mulher para merecer essa escalada de agressões capitais? Aqui, ali e onde quer que seja, ela virou alvo fácil de seu algoz. A minha curta experiência, que vem de ter visto vários fatos concretos, permite-me concluir que essa gana sem limites do homem contra a mulher tem origem nos dois pontos: Primeiro, o engano dela na escolha, e segundo, a dificuldade e até fragilidade para se desvencilhar a tempo do seu potencial homicida.

Na televisão, naquele mesmo dia, José Luiz Datena mostrou mensagens de várias mulheres literalmente aprisionadas por machos que as espancam todos os dias. São os “corajosos” que se desequilibram diante da opçã “Estou demais aqui e tenho que sair”. Daí a minha admiração pelo andarilho que vaga pelas estradas. Para não matar ou morrer, ele preferiu o caminho sem volta.

Pelo que vejo, nenhum dispositivo legal vai intimidar a fúria dos covardes. Para decepção nossa, está nítida a reação instintiva e machista contra a Lei Maria da Penha, que preserva a mulher indefesa. Seu texto é bonito e coercitivo, mas falta a estrutura do Estado para ser aplicada. A prova está nas mortes que estão ocorrendo.

Faço a mim as seguintes perguntas: E se as mulheres fossem minoria? Qual seria o destino delas? A extinção? Precisamos reverter esse quadro.

O pior é saber que outras Suênia Sousa de Farias estão na mesma lista. Com a legislação que temos e o afrouxamento generalizado de cima para baixo, só espero que a mulher use a força da sua sensibilidade e reaja.

A causa da mulher não é só sua; ela é de todos nós. Afinal, um dia passamos pelo seu sagrado útero.

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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