David e o gigante Golias!

Figuras bíblicas que simbolizam a eterna luta entre o bem e o mal, entre o fraco e o forte, entre o pequeno e o grande! No texto hebraico, o Gigante Golias representava a força bruta e destruidora dos inimigos do povo escolhido de Deus, e David, na sua pequenez, armado apenas com uma funda e pedras lisas, mas protegido por Ele e representando o bem, consegue eliminar seu adversário, livrando seu povo daquele perseguidor implacável. Essa é a história de um nome bíblico!

Recentemente, no século XXI, outro David, armado de um revolver apanhado nos pertences paternos, atira nas costas da professora Rosilene e, em seguida, comete suicídio ao dirigir a mesma arma contra sua própria cabeça! A concordância de alguns pontos é evidente: também é retrato da luta entre o bem e o mal, entre o fraco e o forte, entre o pequeno e o grande; no entanto, os aspectos divergentes nos impressionam: agora é o pequeno David que se agiganta ao munir-se de uma arma mortífera, capaz de eliminar vidas humanas, agredindo sua vítima – a grande professora – de surpresa, pelas costas, e depois acabando com sua própria e iniciante vida. Neste momento, o bem e o mal se confundem, se misturam, deixando-nos perplexos!

Quando David confidencia ao seu colega de aula que iria matar a professora Rose com o revólver que trazia de casa, escondido na mochila, ficamos na dúvida se ele não foi levado a serio, já que não houve nenhuma atitude real, por parte do amigo, para impedi-lo de seguir adiante com seu plano. Será que essas ameaças são comuns nas escolas atualmente? Matar pessoas é brincadeira de criança? Por que o colega confidente não contou nada aos professores ou coordenadores?

O pequeno/gigante David é referido como menino modelo até então tanto na escola quanto na família. Criança calma, obediente, bom de matéria e religioso, de fácil relacionamento com os amigos e demais professores. De repente, este mesmo David mostra outro lado da sua personalidade e, inesperadamente, atira na professora, causando-lhe danos físicos talvez reparáveis, mas também lhe causando danos psíquicos talvez inesquecíveis. Precisamos ouvir o outro lado desta estória – o depoimento da Professora baleada: só ela poderá lançar alguma luz nestes pontos obscuros ao relatar como era sua relação com o pequeno/gigante David.

O psicanalista Contardo Caligaris, ao analisar o fenômeno da estrutura bipolar, levanta uma hipótese: o narcisismo de agora se acompanha de uma necessidade visceral de elogios e sinais evidentes de aprovação pelos outros, só assim o sujeito se mantém em equilíbrio.

(*) Psicóloga e psicanalista

[email protected]