ARTICULISTAS

Garganta seca

Estamos sentindo uma secura no ar nunca antes sentida

João Eurípedes Sabino
Publicado em 23/09/2011 às 20:24Atualizado em 19/12/2022 às 22:10
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Estamos sentindo uma secura no ar nunca antes sentida. Tenho seguido à risca o conselho da professora Wanda Prata, de nunca me expor ao sol ou fazer exercícios físicos sem ter água para me hidratar. A falta do precioso líquido pode nos custar a vida.

E ainda há quem ignore que estamos vivendo num imenso condomínio aberto. Nesse condomínio, os que pagam altas taxas vivem na ilusão de ter direitos superiores aos que pagam menos, esquecendo-se de que a água tem o mesmo preço e, mais ainda, se ela é desperdiçada aqui vai fazer falta ali ou acolá. Quando coloco água ao meu cão Kiko, recordo-me que aquela que derrama da vasilha estará faltando a algum cão de rua.

Tenho observado o desperdício que cometem certas pessoas. Dia desses, eu fazia ciclismo por uma das ruas da cidade, quando avistei ao longe um amigo lavando o passeio, a sarjeta e até o meio da rua com água abundante, saída de um potente esguicho. Para não constrangê-lo, virei a uma esquina antes, minha septuagenária bicicleta Phillips. Cortei volta por pensar que ele poderia sentir-se envergonhado. Imaginei até que o meu amigo estivesse sendo obrigado a jogar tanta água na rua e não ficaria bem ele ter de se justificar a mim. Grande equívoco meu.

No outro dia e no mesmo horário, em torno das 7h30min., lá estava o amigo repetindo a lavação, que, aos olhos da sensatez, é absolutamente irrecomendável. Sei que ele pode pagar quantas vezes forem necessárias, todavia, não é esse o caso. É que o meu amigo, com seu gesto, desrespeita as normas de cidadania. É do seu conhecimento, porém ignora que um copo d’água que rola junto ao meio-fio desperdiçado vai deixar seca uma garganta em algum lugar da cidade.

O meu amigo sabe, mas não quer ver que o nosso condomínio público e aberto chamado Uberaba teve quase 40 bairros desabastecidos recentemente. E, ainda, que o nosso Rio Uberaba, somado aos três poços profundos aqui existentes, não tem muito a nos oferecer. Outra notícia não deve ter chegado ao conhecimento do tal: A continuar o nosso boom habitacional, o colapso hidráulico nos espera. Aí a arrogância será parceira da humildade e a falta d’água terá um só preç Todos nós sentiremos a mesma sede.

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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