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Espécies diferentes

Disse-me Evódio que a mulher é a única fêmea bela em relação ao mundo dos animais

Mário Salvador
Publicado em 30/08/2011 às 20:12Atualizado em 19/12/2022 às 22:34
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Disse-me Evódio que a mulher é a única fêmea bela em relação ao mundo dos animais. Quando se observa um touro e uma vaca, esta é feia em relação àquele. No reino das aves, a lógica se repete com galos e canarinhos. “Observe – exclamou Evódio – a beleza do pavão, o canto do macho em relação ao das fêmeas.” E assim, sucessivamente, ele foi apontando essa possível diferença gritante entre as espécies. Citou o cavalo e a égua, a onça, o leão...

No mundo animal racional, porém, essa lógica se inverte. Embora, tempos atrás, a lógica se matinha. Os homens primitivos, com os seus corpos esculpidos e pintados, deixavam a mulher presa em roupas e inibições, transformando-as em fêmeas feias e recalcadas. Com o decorrer do processo histórico, as mulheres continuaram enclausuradas nas superstições, enquanto que o homem era embalado em aventuras físicas e amorosas. Foram os higienistas, a partir do inicio do século XIX, que libertaram a mulher e as suas formas. Eles defenderam o arejar do corpo como método curativo, divulgaram o exercício físico como estratégia de vida saudável e o sexo deixou de ser escondido para ser cuidado.

A medicina adoeceu a mulher e os higienistas a libertaram. “Cuidado – disse a Evódio – se uma feminista te pega, você fica em situação vulnerável.” “É verdade”, respondeu-me. E concluiu assim: “inicialmente os higienistas e depois o movimento feminista do século passado libertaram a beleza que há externa e internamente nas mulheres”. “O certo é que – continuou Evódio – a mulher tornou-se uma fêmea linda em relação ao macho. A espécie feminina, além de ser diferente da espécie masculina, é bela e de melhor prenda do que o macho. Tem mais tempo de escolaridade, são pontuais, assíduas, dedicadas, zelosas com as coisas, sabem desenvolver várias atividades ao mesmo tempo, embora não tenham noções de lateralidade, mas têm um olhar profundo das coisas, o que o homem não tem. Se você colocar num mesmo local homens e mulheres, e perguntarem a eles e a elas o que viram, veremos que a lógica do pensar e do observar da mulher é bem diferente da do homem.” “Creio – disse-me Evódio – que, se isso ocorreu no entroncamento da evolução das espécies, quando uma ramificação dos hominídeos caminhou para gorilas e chimpanzés e a outra para homens e mulheres. Dentro desta estrada evolutiva, uma via se tornou masculina e outra feminina, que se encontra em afinidades sexuais e afetivas, mas não na racionalidade de interpretação do mundo. O que permitiu a homens e mulheres se deitarem e conviverem foram os valores morais, embora estes tenham sido inicialmente imorais para as mulheres.”

“Você ficou doido, Evódio? Que coisa mais maluca você achar que homens e mulheres são de espécies diferentes?” “Se não são, por que são diferentes?” Não pude responder, porque não sei. Conquanto, só sei que nascemos marcados pelo pecado original externado em intolerância, vaidade, orgulho, ciúme, violência. A questão desta última desafia a natureza humana e nos redobra na tarefa de como aplacá-la nas espécies humanas.

(*) professor

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