ARTICULISTAS

Uberaba humanitária

Com o passar dos anos, vamos perdendo o reflexo e achamos que só o outro está envelhecendo

João Eurípedes Sabino
Publicado em 19/08/2011 às 22:15Atualizado em 19/12/2022 às 22:45
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Com o passar dos anos, vamos perdendo o reflexo e achamos que só o outro está envelhecendo. E assim caminha a humanidade, ou melhor, a desumanidade.

Nossa imprensa tem sido farta em nos apresentar notícia do tip “Aposentado(a) morre atropelado(a)...”. Marcou-me muito um atropelamento que vi de pertinho na confluência da praça Rui Barbosa com a rua Artur Machado. Uma moça fora atirada longe por uma bicicleta. Como Guarda Mirim, atuei naquela ocorrência, inclusive prestando os primeiros socorros. Aquele dia de 1963 não deveria, mas se repete com fidelidade em relação ao hoje de 2011.

Se seguirmos o noticiário, veremos que no trânsito urbano local o idoso tem sido vítima da mais impiedosa pena: A morte trágica como prêmio depois de ter contribuído tanto com a construção do País. Causa tristeza saber que, no trânsito, a ordem da segurança é reservada com prioridade ao pedestre. Ver os Artigos 26 – XII / § 2º e 68/71 do nosso Código de Trânsito. É ou não é desumanidade, ignorar essa ordem?

Com o meu mestre, o médico Dr. Carlos Luiz Campana, da USP/Ribeirão Preto, aprendi uma lição, que procuro exercer: “Faça sugestões, ainda que elas não sejam acatadas. O importante é você fazer a sua parte.” Diante do grande número de famílias desfalcadas pela morte de seus entes queridos no trânsito de Uberaba, não é demais pensarmos na Associação dos Parentes e Amigos das Vítimas do Trânsito. Não tenho dúvidas de que essa instituição seria absolutamente legítima para criarmos aqui o Grupo Voluntário de Proteção ao Pedestre. Quem iria furtar-se de fazer esse bem transcendente? Estou pronto para apoiar e ver voluntários atuando nos cruzamentos de ruas e avenidas.

No dia 26/07/11, tivemos o lançamento da Pedra Fundamental para a construção da sede própria da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Uberaba. A Polícia Militar do Distrito Federal se fez presente e, numa ótima encenação teatral, o subtenente Lindomar de Oliveira Barreiros, ao ar livre, representou um idoso já trêmulo e com voz embargada. A emoção foi geral quando aquele ser, carcomido pelo tempo, cobrou justiça da sociedade, pedindo apenas para ter uma vida digna. Soubemos depois que aquele “velinho” está na história de Brasília. Ele foi um dos responsáveis pela implantação do respeito que hoje se dedica ao pedestre naquela capital.

Uberaba é vista como humanitária, porém o pedestre e o respeito que lhe é devido trafegam em mãos contrárias. Sem nenhum agouro, imagin Quem terá morrido no nosso trânsito quando esta crônica estiver circulando?

(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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