Nos dicionários está: “Caligrafia é a arte de escrever à mão, segundo diferentes regras e modelo”. Também a maneira própria de cada pessoa no uso dessa arte. Mais à frente, está: “Grafologia é a ciência geral da escrita materialmente considerada.” Também a análise da personalidade de um indivíduo por meio do estudo dos traços de sua escrita.
Noutros tempos, quando se cursavam os quatro anos do Grupo Escolar, na relação dos materiais escolares, figurava também o caderno para Caligrafia. Era todo diferente e repleto de linhas paralelas, que determinavam uma uniformidade nas letras maiúsculas e minúsculas, concorrendo para um belo escrever.
Todos nós, por exigência daquelas linhas e da professora também, aulas após aulas, vencíamos o escrever desalinhado e feio, como se fosse para nos tornar exímios Calígrafos. Não sei se aquele caderno e a exigente professora exerceram alguma influência na personalidade de cada um de nós, como dizem que a Grafologia é capaz de afirmar.
Em lamentável dia, julgando prescíndivel, sustaram a razão do talhe bonito no escrever. Partindo então do fatídico instante, a Caligrafia cedia lugar aos semelhantes Hieróglifos. Parece que todos aqueles que não tiveram aquele caderno e professora exigente empunham hoje a caneta ou o lápis nas mais diversas e estrambólicas formas, grafando inelegíveis garranchos. Certamente, previa-se que a escrita um dia não mais seria pelo manejo das mãos, e sim aparelhos tecnicamente construídos fariam isso.
E aquele caderno não mais estaria na relação dos materiais escolares. Hoje, aquele previsto é uma realidade. Bom seria, também, se aqueles aparelhos substituíssem as mãos daqueles que ainda acham que escrever feio é Chique. Grandes vultos que a História da Humanidade menciona foram incapazes de ler os seus próprios escritos, redigidos em ocasiões distantes ou esquecidas.
Nada causa espanto o fato de alguém retornar uma prescrição inelegível para melhor ser escrita. Eu mesmo já portei coisa semelhante quando experientes em leituras desses garranchos não conseguiram decifrar. Alguns industriais também, crentes desse Chique, imprimem em alguns de seus fabricados grafia própria do iniciante às primeiras letras, como se pode observar na embalagem do óleo na fórmula; “Semente de uva.” Alguns outros trejeitam tantos inventos, criando apêndices, invadindo outras letras, que sou obrigado a ler “Coca-Cota”, e não “Coca-Cola”, como pretendem. Feliz daquele que teve um caderno diferente e uma professora exigente. A “Grafologia” não terá hoje como dizer; “Esses garranchos refletem você.”
(*) Odontólogo; ex-professor universitário (Odonto-Uniube)
