ARTICULISTAS

Com o pescoço na guilhotina

Com o número expressivo de pessoas que hoje usam o computador e outras tecnologias

Mário Salvador
Publicado em 02/08/2011 às 19:43Atualizado em 19/12/2022 às 23:03
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Com o número expressivo de pessoas que hoje usam o computador e outras tecnologias, profetas proclamam o fim do uso do lápis, caneta e caderno, ou seja, da escrita à mão.

Preenchi cadernos de caligrafia com esmero, orientado pela dedicação de minha primeira professora, Maria de Lima. Esse exercício me valeu profissionalmente, pois escrevi em muito livro Diário (quatrocentas páginas), Razão, Conta Corrente, Caixa, Atas e tantos outros ao longo da carreira. E hoje a informática facilita o trabalho de contadores e secretários. Tudo a seu tempo.

A praticidade da lista de contatos no celular e afins deu cabo das velhas listas manuscritas. E noiva não copia mais as receitas culinárias da família, pois estão todas na internet, até as mais improváveis. (Considerando-se, ou não, esse trocadilho.) Mas casos isolados, como o da escritora que, estressando-se ao tentar digitar seus livros, voltou à caneta, mostram que é preciso calma e persistência na imprescindível adaptação.

Afirma Irwin Jacobs, criador de uma empresa de chips de celulares: “As pessoas ainda vão escrever (...) em letra de forma ou cursiva. Mas, sim, vamos escrever cada vez mais num aparelho.” Sem dúvida, é vultoso o número de pessoas que opta pela tecnologia em atividades cotidianas. E como gerações atuais lidam facilmente com essa nova parafernália, os manuais, antes raramente consultados, hoje são completamente dispensáveis.

É fato que algumas escolas americanas tenham abolido a letra cursiva e substituído caderno por computador. Pode ser que, também no Brasil, com a atualização de professores, a educação sofra um boom se souber aderir a novos recursos.

Também é fato que, no Brasil, anunciado o fim do orelhão (Um milhão e cem mil disponíveis.), em razão dos duzentos milhões de celulares, a Oi nos surpreendeu: prometeu internet sem fio em seus 824 mil orelhões. Vida longa ao amigorelhão!

Pode parecer insólito comparar dois momentos da escrita. Porém, mesmo rendido à tecnologia, ainda imagino lápis, caneta, caderno e orelhão, todos aparentemente com o pescoço na guilhotina, como boas companhias nossas por muitos anos.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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