ARTICULISTAS

Corrupção endêmica

Hugo Cesar Amaral
Publicado em 01/08/2011 às 00:00Atualizado em 19/12/2022 às 23:04
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Há algum tempo atrás importante jornal americano mencionou em artigo que a corrupção no Brasil seria endêmica. No dicionário, diz-se de endêmico o que "é próprio de uma região ou população específica". Traduzindo para palavras simples o que a publicação americana intentou expressar foi que na política brasileira a corrupção seria algo natural, indissociável da mesma e inerente à sua natureza.

A manifestação do jornal provocou grande insatisfação dentre os governantes brasileiros, gerando mau humor até no presidente da época, FHC. Na visão de nossos “honestos e castos” políticos, seria um absurdo um jornal estrangeiro publicar tamanho disparate. Por muito pouco aquela manifestação não gerou um sério incidente diplomático entre Brasil e EUA.

Embora não seja nada agradável ler numa publicação estrangeira uma manifestação deste teor - é algo que nos denigre - a verdade é que casos complexos, reiterados e grandiosos de corrupção, como os que ultimamente têm se apurado no âmbito do DNIT, e aos quais se juntam Mensalão do DEM, desvios de recursos da construção do TRT-SP e diversos outros - apenas para mencionar alguns dos que atingiram notoriedade na grande mídia -, evidenciam que infelizmente em nossa Administração pública a corrupção releva-se endêmica e mais comum e organizada do que se imagina. Mudam-se os partidos políticos que comandam o País, muda-se a ideologia política dominante, surgem novas personalidades políticas, entra governo, sai governo, e os esquemas de corrupção não deixam de marcar sua presença.

O que causa maior estranheza, entretanto, é o fato de que os gastos dos recursos públicos serem, em tese, objeto de fiscalização de diversos órgãos e instituições. Para citar apenas a Administração federal, a mesma é fiscalizada pela Controladoria Geral da União, pelo MPF, pelo TCU, pelo Congresso Nacional e pela Polícia Federal, esta última, quando já há indício de irregularidades e crimes contra o patrimônio público.

É evidente que a sistemática de acompanhamento e controle dos gastos públicos, sobretudo em gastos relativos às obras,  é falha, pois somente depois de ocorrido o dano - por vezes gigantesco - aos cofres públicos é que se identifica a irregularidade, ou seja, quando os envolvidos já se apropriaram dos recursos e os enviaram para contas na Suíça, ou lavaram o dinheiro da forma que lhes convieram. 

No Brasil, não temos tido muito sucesso na recuperação dos valores desviados em escândalos de corrupção. Não se sabe se por incompetência da Polícia Judiciária, ou se de fato a inteligência dos corruptos é tamanha que esconde os valores desviados em lugares inacessíveis (paraísos fiscais etc.), a verdade é que muito pouco do que se desvia retorna aos cofres públicos.

Recentemente, a empresa do ex-senador Luiz Estêvão foi condenada a devolver 55 milhões de reais à União. Muito pouco, perto dos quase 200 milhões de perdas do escândalo da construção do TRT-SP, mas que não deixa de ser uma pequena vitória, se formos otimistas e acreditarmos que estes valores retornarão para o Poder público.

Embora enraizada na cultura política brasileira, a corrupção pode sim ser debelada, porém, isto somente será conseguido se os órgãos de fiscalização e controle acima mencionados deixarem de ter postura meramente repressiva dos atos de corrupção e passarem a ter enfoque preventivo, para fulminar os esquemas de corrupção no seu nascedouro, antes de causar danos ao Patrimônio público.

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