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O Museu Sigmund Freud - Bergasse, 19

Graças à visão arguta de August Aichhorn (um dos participantes das reuniões de quartas-feiras)

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 20/07/2011 às 19:45Atualizado em 19/12/2022 às 23:16
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Graças à visão arguta de August Aichhorn (um dos participantes das reuniões de quartas-feiras) que soube prever, em plena ascensão vitoriosa do nazismo, sua breve e retumbante duração; antes da mudança da família Freud para Londres, o fotógrafo Edmund Engelman foi contratado para preservar com a exatidão própria das imagens, o apartamento e o consultório da Bergasse, 19 – Viena. Com todos os riscos que tal empreendimento acarretava naquele tempo de soberania nazista e perseguição furiosa aos judeus, as fotos foram feitas, mantidas e levadas à salvo para fora dos territórios ocupados, e agora, ampliadas em tamanho natural e fixadas nas paredes, exibem todos os pormenores dos cômodos que compõem o apartamento da Bergasse, 19. Assim tomamos conhecimento dos detalhes do espaço organizado por Freud e sua família para abrigar e possibilitar a vida no dia-a dia – reflexo dos valores e da presença de todos.

Existe uma identidade semelhante entre os visitantes deste museu: todos estão ligados à psicanálise direta ou indiretamente, portanto, encontram-se irmanados numa identificação emocional. As línguas são várias, de acordo com o país de origem, mas a emoção é comum. Todos se reconhecem neste ponto de igualdade – a psicanálise – e assim não há lugar para o outro estrangeiro. A sensação de respeito, admiração e profundo interesse pelos itens em exposição domina.

O primeiro cômodo que se visita é a sala de espera, com os móveis característicos: pequeno sofá, cadeiras e uma mesa central, ainda hoje presentes no museu. Desde então se evidencia o traço pessoal freudian a cor dominante é o vermelho e as paredes estão decoradas com fotos e quadros de homenagens e distinções recebidas. Esta sala também tem uma história no movimento psicanalítico – era o lugar de reunião da Sociedade de Psicologia das Quartas-feiras, onde Adler, Steckel, Feder, Rank, Jung, Brill, Jones e Abraham se encontravam.

À esquerda da janela de onde se avista o pátio interno, uma grande porta dupla leva ao consultório onde se via o célebre divã. As fotos fixadas nas paredes dão a exata impressão da utilização do espaço e a conclusão inevitável: Freud não era tão freudiano quanto seus seguidores, porque em franca oposição à frieza clean dos consultórios dos psicanalistas de então e atuais, seu local de consultas continha inúmeros objetos de decoração espalhados pelas paredes, chegando a ocultá-las completamente e vitrines com sua famosa coleção de antiguidades – não restava na peça a mais pequena parte de espaço vazio. A personalidade de Freud se mostrava impondo desde já sua pessoa poderosa e opressora. (Continua.)

 

(*) psicóloga e psicanalista

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