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Osertanejo e o empresário

Em sua obra Os Sertões, Euclides da Cunha, ao tratar da formação racial do sertanejo

Mário Salvador
Publicado em 05/07/2011 às 19:40Atualizado em 19/12/2022 às 23:33
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Em sua obra Os Sertões, Euclides da Cunha, ao tratar da formação racial do sertanejo, fala da mistura de raças, em sua generalidade, como um retrocesso. Mas o sertanejo nordestino seria diferente: mesmo sendo resultado de uma mistura étnica, não se corrompera, por estar isolado no interior do país e ter ficado, por três séculos, sem maiores contatos com o litoral desenvolvido.

Apesar de seu atraso mental, o sertanejo surge como um titã. Daí a afirmação de louvor a ele: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” O bordão criado por Euclides da Cunha marcou o sertanejo como um homem de grande bravura no enfrentamento do inóspito sertão nordestino.

Guardadas as devidas proporções, estamos pedindo emprestada a Euclides a força desse bordão, pois serve como uma luva para definir a situação do empresário brasileiro, que se aventura a abrir um negócio, gerar riquezas para o país e, mais ainda, gerar os empregos de que todos os brasileiros precisamos. Dizemos, então, que o empresário brasileiro “é, antes de tudo, um forte”.

Em todos os setores da atividade empresarial, a extenuante e tormentosa burocracia nacional é como uma corrida de obstáculos. Com uma enorme dose de paciência, o empresário consegue vencer essa corrida e abrir um negócio, seja um pequeno bar, um varejão, um supermercado ou uma potente indústria.

A instalação desse negócio é cada vez mais complicada e constantemente surgem novas exigências, de toda espécie. Para construir um pequeno cômodo, numa esquina onde poderá ser instalado algum empreendimento, o empresário fica a poucos metros... de um infarto.

E mesmo os estabelecimentos que já funcionam há anos são obrigados a se adequar a regras que vão surgindo, sempre em benefício do cliente, do usuário, da saúde de todos; sem que sejam levados em conta os gastos para as adaptações. Não sendo isso possível, que se feche o estabelecimento.

Vem, então, a concorrência, que, embora seja até certo ponto salutar para o consumidor, pode acabar decretando o fim de algum negócio. Principalmente quando se trata de produtos importados, muitas vezes colocados no mercado a preços impossíveis de serem acompanhados.

E há a questão dos impostos. Nesse quesito, o Brasil é campeão em onerar o setor produtivo. Dizem que os impostos são elevados, pois há muita sonegação e é preciso compensar o prejuízo do estad inocentes pagam por pecadores.

Em relação aos empregados, o empresariado tem que ser mesmo um forte para aguentar o tranco, tantas são as exigências legais. Ninguém discorda de que todo empregado deve ser protegido pela lei e de que o empresário deve ter extremo cuidado ao lidar com o assunto. E ninguém discorda também de que a folha de pagamento é alta e os encargos trabalhistas, pesadíssimos. Assim não são raros os atritos trabalhistas. E mesmo que o empresário ganhe a causa, sempre há o desgaste financeiro e aborrecimentos sem fim.

Já em relação aos impostos, ainda que tudo seja pago corretamente, é inevitável que haja uma fiscalização para confirmar o movimento. E sempre surge uma dor de cabeça no encontro com o fisco. Mesmo que não haja multa alguma, fica o aborrecimento.

E há mais ainda para cima do empresário. Como exemplo, citamos as visitas inoportunas de quem prefere viver de assaltos que lhe rendam bons resultados. E quando o prejuízo do empresário é só com bem materiais, agradeçamos a Deus. Nem sempre podemos fazê-lo, pois são incontáveis os assaltos e também sequestros e mortes de empresários e de membros de suas famílias.

Por falar de assaltos a empresários, ainda agora, acena-se com o décimo terceiro especial para trabalhadores com mais de um ano de casa, medida que vai entrar em vigor logo, pois está na Constituição. Apenas mais um gasto. Verdadeiramente, o candidato a abrir uma porta deve estar bem preparado, que os sustos são brutais no exercício da atividade.

Mesmo diante de tanta adversidade, se as partes se acordam e o empregado presta um bom serviço e o patrão lhe paga um salário justo, então é tocar o negócio, ainda mais se lucrativo e capaz de manter todos satisfeitos: empresário, empregado e governo, o grande sócio em todos os negócios.

Com tudo o que aqui apresentamos e com tudo o mais que poderíamos citar, afirmamos, com convicçã o empresário brasileiro “,é, antes de tudo, um forte.” E já que estamos acostumados às dívidas, nós, no exercício da escrita, e o empresariado, no exercício da paciência, agradecemos a Euclides da Cunha pelo empréstimo de seu bordão.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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