A força do bem

Hoje falo sobre o que nos ocorre quando o tempo mostra estar prestes o momento de passarmos ao jornal o que escrevemos. O texto deve ser concebido com boa margem de tempo, caso contrário, de última hora poderá haver um bloqueio reduzindo o fluxo de sentimentos e esses não serem assimilados pelo autor para virar palavras. O articulista e o cronista são passíveis de se verem acometidos por esse bloqueio e o grande trabalho é o de não se deixarem vencer por ele. Ao escrever sentimos as engrenagens internas saírem lentamente da velocidade zero e ganharem embalo. Daí já dotadas de energia, estabilizam o movimento e mesmo depois de desaceleradas giram indefinidamente, ou seja, haja páginas! O exercício frequente da inspiração é fundamental nesse processo.

Um artigo sobre qualquer assunto, como se sabe, tem o tom ilustrativo e enfático, enquanto que a crônica mostra o lado açucarado da mesma ou de qualquer questão. É tênue a linha que separa o artigo da crônica, mas nenhum dos dois vem ao escriba sem o concurso da sua sensibilidade.

“O esforço mental atrai a ideia”. Essa assertiva eloquente de González Pecotche pode ser amplamente comprovada e quem escreve sabe que: ninguém consegue fluir uma vírgula para o papel sem ter feito algum esforço. É engano pensar que um Jânio de Freitas, Carlos Heitor Cony, Terezinha Hueb de Menezes, Padre Prata e outros não menos ilustres, nos brindem com seus belos trabalhos sem se esforçarem. A ideia vem, mas não vem assim tão fácil como se pensa.  

É fascinante ver o processo pelo qual passa um texto. Primeiro ele reside esparso no campo mental, depois por gravitação é formatado, esquadrinhado e chamado à materialização. Parece difícil, mas o difícil mesmo vem agora: trata-se do acolhimento do autor pelo leitor. Aí reside a arte de quem escreveu.

O autor não sabe o que será feito com as suas palavras, mas deve saber com absoluta certeza: na essência do seu esforço para se fazer entender estará impressa a força do bem.

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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