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Pergunta que não cala (parte 2)

O primeiro filho de Anna e Dilermando nasceu sem que o triângulo amoroso

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 29/06/2011 às 20:12Atualizado em 19/12/2022 às 23:38
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O primeiro filho de Anna e Dilermando nasceu sem que o triângulo amoroso formado com Euclides tenha se resolvido. Apesar de reconhecer oficialmente a criança como sua, Euclides rejeitou-a profundamente, a ponto de proibir qualquer alimentação e cuidados maternos imprescindíveis à sobrevivência da mesma, o que ocasionou sua morte prematura.

Anna resolveu então fugir para a casa de Dilermando, levando consigo dois filhos – Sólon e Luiz. Ao constatar, à noite, sua ausência, Euclides não conseguiu dormir e logo cedo decidiu ir buscá-la, bem como enfrentar seu rival. Com uma arma emprestada, dirigiu-se para Piedade – Estrada Real de Santa Cruz.

“Vim para matar ou morrer!” Com estas palavras Euclides invade o quarto de Dilermando, onde entra com a arma em punho, atingindo-o na virilha. Mesmo ferido, ele tenta desarmá-lo e recebe outro disparo, que agora o fere no peito. Dinorah – irmão de Dilermando – também tenta retirar a arma do agressor e os dois entram em luta corporal. Não tendo conseguido seu intento, Dinorah se desvencilha de Euclides, dirigindo-se ao seu quarto para apanhar uma arma. Ao virar as costas, o invasor faz pontaria e o atinge gravemente na nuca. Dilermando assiste a tudo e, num esforço desesperado, ergue-se, apanha seu revolver que estava sobre uma prateleira e atira para conter os disparos. Inútil, o escritor puxa o gatilho novamente. Depois de mais uma troca de tiros, Dilermando consegue acertar Euclides, que sai da casa pelos fundos e cai de bruços.

No total, foram disparados 13 tiros – sete de Euclides e seis de Dilermando. Euclides morre e Dilermando sobrevive, mesmo tendo ferimentos nos pulmões, no diafragma, nas costelas e no fígado, e Dinorah fica hemiplégico.

Depois da prisão, julgamento e absolvição por legítima defesa, Dilermando pede Anna em casamento e os dois iniciam vida matrimonial fecunda.

Anos depois, Anna percebe mudanças radicais no comportamento de seu amad irritações, agressões verbais e tentativas de afastar os filhos dela. Ela era uma mulher de 50 anos e ele ainda não chegara aos 40. Da investigação que resolveu fazer, Anna confirma suas suspeitas de que Dilermando tem outra mulher. Assim, abandona a casa onde moravam, levando consigo os filhos. Anna nunca perdoou Dilermando, que morre pedindo-o.

Onde está o amor? Nas ações ferozes e impulsivas de Euclides? Na traição e abandono posterior de Dilermando? Na mágoa obstinada de Anna? (continua).

 

(*) psicóloga e psicanalista

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