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É mentira!

A mentira sempre teve forte repercussão negativa. Ninguém quer ser associado a ela, a não ser nas festas juninas

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 28/09/2019 às 09:08Atualizado em 18/12/2022 às 00:36
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A “mentira” sempre teve forte repercussão negativa. Ninguém quer ser associado a ela, a não ser nas festas juninas. Nestas tradicionais festas, com suas gostosas danças populares, é comum ouvir os gritos de: “é mentira!”; a meninada adora. 

Essa palavra também se escuta de forma medrosa ou raivosa, aguda ou tímida, geralmente às escondidas, quando um casal se desentende e um deles acusa ou constata: “você mentiu para mim!” Que tristeza! Perde-se a confiança, a amizade, o amor. Escuta-se quando os pais percebem que o filho escondeu algo, não revelou uma falta grave ou encobriu um delit “Você mentiu! Está de castigo!” Não são situações agradáveis de vivenciar. Quantas crianças já não escutaram aquela famosa história do menino que à beira de um lago grita por socorro porque está se afogando? Quando os adultos chegam para salvá-lo, ele dá uma risada debochada e fala: “é mentira!” A coisa não termina bem, pode-se contar sem medo de estragar o suspense final. Não é surpresa pra ninguém que um dia, na hora do real afogamento, ele grita por socorro, mas ninguém aparece. É o fim do mentiroso. A lição é repetida inúmeras vezes com o intuito de formar bons cidadãos.

Pois não é que a tal palavra voltou! E voltou repaginada, como gostam de falar os pernósticos. Agora, a velha mentira se chama fake news, expressão da língua inglesa que significa “notícia falsa”. O termo é usado para se referir a informações falsas, prática condenável, mas corrente nas redes sociais e nas eleições.

Existem diferenças entre o ontem e o hoje das mentiras? No passado, o mentiroso só costumava passar vergonha caso fosse desmascarado. Ficava corado ao ser flagrado na mentira, alguns choravam, pediam desculpas. O infeliz ficava, no mínimo, constrangido. Hoje…

Para começo de conversa, o mentiroso de hoje está, geralmente, escondido atrás de um celular, um tablet ou um computador. Máquinas manipuladas espertamente difundem as mentiras. É claro que alguém alimenta essas máquinas! Vamos admitir que o mentiroso digital fique ruborizado, mas ninguém o vê. Quietinho no seu canto, ele não costuma pensar, apenas repete, reproduz, difunde sem discernimento ou perspicácia as mentiras que chegam até ele. Aí, lançada a mentira na rede, os mentirosos se calam. Os danos causados e seus efeitos, desejados ou não, não o incomodam. Acha que cumpriu uma missão, quase religiosa: propagar a “verdade”, ainda que seja mentira. 

Qual é o objetivo de se espalhar as fake news? Será falha de caráter? Pode ser, mas obedece a estratégias políticas de quem não tem argumentos, de quem não está acostumado ao diálogo, à democracia. Sim, a mentira é antidemocrática por princípio! Visa, sobretudo, passar a perna nos incautos e ingênuos. Revela preconceito, ignorância e dissimulação. Uns e outros, principalmente os que estão presos ao passado, gostam das mentiras, pois não compreendem e têm medo do futuro.

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