Morrer e deitar

É comum ouvirmos a frase: “Fulano morreu e se esqueceu de deitar!”, referindo-se a alguém com saúde precária.          Essa ideia, acreditamos, pode ser aplicada à nota de um real, há muito desaparecida.

Lemos notícias recentes sobre essa nossa cédula de menor valor. Desde 2006 o Banco Central deixou de produzi-la, uma vez que a fabricação da moeda de igual valor, mesmo a um custo de R$ 0,34 por moeda cunhada, é mais vantajosa, pela durabilidade de seu material.

O controle da produção e circulação de moedas não deve ser fácil. Países europeus levam em conta o custo da produção e só emitem cédulas a partir de cinco euros.

Surpreendentemente muitos estabelecimentos não estão aceitando a notinha do beija-flor, embora ela ainda não tenha saído de circulação. Usam o argumento de que ela não vale mais. Ou seja, a notinha morreu e se esqueceram de fazer o sepultamento dela! Acontece que ela ainda está bem viva. Às vezes escondidinha em algum cantinho de nossa casa.

Ignoramos o mecanismo do Banco Central para determinar a existência dos 152,2 milhões dessas notas em circulação. Acreditamos que o façam, quem sabe, dando baixa nas notas incineradas, em relação ao total produzido e jogado no mercado. Há menos notas de um real em circulação do que a população brasileira, apontada no Censo de 2010.

Quem gosta de guardar cédulas como uma recordação deve segurar a de um real que encontrar. Talvez nem seja possível conseguir por a mão em outra. E se alguém for pagar usando alguma nota de um real e o comerciante não a aceitar, resta o recurso de trocá-la em um banco.

Fica a mensagem: a notinha verde, de um real, com o beija-flor, não está morta, ou fora de circulação; ainda respira, tem algum fôlego e merece nosso respeito.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro