ARTICULISTAS

Vírus da deformidade

Tenho observado muito a forma com que os preceitos éticos são aplicados atualmente

João Eurípedes Sabino
Publicado em 13/05/2011 às 19:51Atualizado em 20/12/2022 às 00:21
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Tenho observado muito a forma com que os preceitos éticos são aplicados atualmente pela sociedade, diante de fatos cuja reprovação até bem pouco tempo era tida como certa. O que se via como errado ontem é praticamente normal hoje, e me pergunt E o que é normal hoje o que será amanhã? Minha geração e outras anteriores sofrem só de tentar prever esse futuro incerto e inimaginável. Aprovo, entretanto, a união civil dos casais homoafetivos.

“Tudo que pode não pode e tudo que não pode pode”. Conseguiram generalizar esse conceito, que antes só era aplicado em setores questionáveis do diário viver. É impressionante o quanto o vírus dessa deformidade grassa nas mentes, adoecendo-as, começando por instigar o homem a levar vantagem onde quer que esteja. Daí para a falta de escrúpulo, a distância a caminhar é menor do que um passo.

Caminhando por Brasília dia desses, puxei conversa com certo senhor que caminhava por uma superquadra, onde sistematicamente não há esquinas. Logo eu soube tratar-se de um mineiro entristecido com o estado de coisas que atualmente imperam naquela capital. Ele me pontuou que os habitantes brasilienses são trabalhadores e lutam no dia-a-dia. Quando lhe contestei sobre a corrupção ali enraizada, suas poucas palavras revolveram os meus conceitos. Eis o que ouvi: “Dos mais de quinhentos deputados e dezenas de senadores no Congresso, Brasília não possui mais do que dez. O senhor sabia? Portanto, a corrupção daqui vem de fora!”. Sim, meu senhor, mas os vírus num corpo doentio podem se alastrar a outros e tornar epidemia contínua. Milhões de seres, depois de contaminados, levam a situação ao descontrole. “Eh..., será isso que aconteceu com toda a sociedade e não só com Brasília? Alguém doente, daqui ou de fora, adoeceu os outros?”, indagou-me.

Fiquei a pensar no que um vírus é capaz de causar se o seu campo de ação estiver desguarnecido, sem resistência e vigilância. Preocupa-me muito ver os jovens que me substituirão, erguendo suas vidas diante de um espelho onde o bom exemplo dos nossos dirigentes é matéria em flagrante extinção.

(*) Presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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