ARTICULISTAS

Preços incalculáveis

Todos os dias estamos vendo girar entre nós o termo “bulling” numa alusão aos confrontos abusivos

João Eurípedes Sabino
Publicado em 15/04/2011 às 20:15Atualizado em 20/12/2022 às 00:49
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Todos os dias estamos vendo girar entre nós o termo “bulling” numa alusão aos confrontos abusivos entre colegas de escola. Os fortes sempre prevalecem sobre os fracos, eis a questão. Esses embates são antigos, mas as desavenças atuais ocorrem entre grupos de alunos que se aglutinam atualmente em perigosas facções. Hoje, por alcançar as raias do absurdo em níveis mundiais, o problema ganhou novo nome e status. Zoar uma pessoa além do limite virou “bulling.”

Os sarros e as chacotas ácidas entre jovens cresceram tanto em seus efeitos que os especialistas em relacionamento humano entraram no problema e mostram que ele é muito mais profundo do que se imaginava. “Pegas” nas portas de escolas, iniciados dentro delas, hoje são tantos que os professores, de forma tácita, rendem-se ao jogo. Ataques violentos se estendem a outras áreas e locais, não importando aos seus protagonistas que consequências causarão. O assunto está muito além das ações policiais. Vi recentemente numa escola alunos jogando baralho no intervalo de aula. Pode?

Quem não se lembra do apelido depreciativo que uma pessoa “A” colocava em “B” e quanto mais “A” discordava mais o apelido pegava? Aí surgia a legião dos gozadores a humilhar o apelidado, até que chegava o dia da explosão. Nossa história local tem o triste registro do caso de um diretor de escola profissionalizante que, na década de sessenta, perdeu a vida por chacotear uma pessoa.

Wellington Menezes de Oliveira, o autor de 12 assassinatos na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, terá agido por força de um “bulling” reprimido? É que “A dor da humilhação dura a vida inteira mais seis meses”. Ouvi certa vez essa frase e não a esqueço. Há pensamentos que ficam encubados e o da vingança, se estiver numa mente enrijecida, ao ser materializado, pode causar poucos ou muitos transtornos.

Cumpre-nos criar diques de contenção aos nossos jovens e, no lar, essas barragens devem ser construídas para que o mundo não as construam com tanta perversidade. Visando forjar o caráter, a escola é apenas para informar, e não formar. Enquanto perdurar esse equívoco educacional, vamos pagar preços incalculáveis.     

(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

 

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