ARTICULISTAS

Sobre a tragédia do Realengo

Não há como evitarmos escrever sobre o massacre dos estudantes da escola municipal Tasso da Silveira

Mário Salvador
Publicado em 12/04/2011 às 20:07Atualizado em 20/12/2022 às 00:52
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Não há como evitarmos escrever sobre o massacre dos estudantes da escola municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O fato suscitou debates e trouxe à tona o assunto da vulnerabilidade das escolas, que imaginávamos um ambiente relativamente seguro para nossos filhos. Como evitar que essa história se repita?

Doutor Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, explicou que rotular Wellington como doente mental é estigmatizar 46 milhões de brasileiros que precisam de atendimento psiquiátrico. A maioria não é perigosa. Wellington, que devia ser portador de transtorno de personalidade e depressão, provavelmente procurava uma forma equivocada de vingança, pois fora vítima de brincadeiras pesadas naquela escola, principalmente de meninas, as que mais sofreram com a ação criminosa. E ele já havia listado pessoas que mataria ao terminar a 8ª série. Já certo estudante foi poupado, provavelmente porque Wellington se identificava com um ex-colega com quem jogava bola e que era gordinho como aquele menino.

Dentre outras, homenagens foram feitas em jogos de futebol e na frente da escola de Realengo. Emocionada, a presidente Dilma, em reunião com empresários, propôs um minuto de silêncio para homenagear “esses brasileirinhos que foram retirados tão cedo da vida”. Decretou luto oficial e encarregou uma enviada especial de prestar solidariedade às famílias enlutadas.

Não será uma nova tentativa de desarmamento da população que evitará episódios como esse, consumado com uma arma roubada e outra adquirida ilegalmente. Nem a instalação de detectores de metal na entrada das escolas, o que já foi testado, sem sucesso.

É preciso que autoridades estejam constantemente atentas ao conteúdo veiculado na internet. E nós, pais, educadores e toda a comunidade escolar, precisamos estudar com propriedade o problema do bullying, realizar campanhas de conscientização e tomar providências em cada caso. Além disso, uma imprensa de conduta ilibada é capaz de evitar a glamourização do assassino e daquela tragédia. Outra providência a ser tomada se refere ao fato de que muitas crianças e educadores sobreviventes precisarão de acompanhamento médico para superar o trauma. O projeto Amigos da Escola, reconhecido pela Unicef, pode ajudar de diversas formas.

Sabemos que nada do que citamos aqui é novo e que o consenso inexiste, porém preferimos correr o risco de tratar do tema já explorado exaustivamente, à omissão diante dos fatos. Talvez as autoridades estejam perdendo muito tempo com alguns assuntos de somenos importância. Talvez tudo pudesse ter sido evitado. E, como adultos, podemos ter traído a confiança das crianças. Realengo, que quer dizer próprio de rei, também significa abandonado. Precisamos transformar a história agora ligada a esse nome. E se retomamos o assunto, é para ficar claro que o que esperamos das autoridades é que tomem providências para, já que infelizmente não é possível devolvermos a vida a essas crianças inocentes, que nenhuma gota do sangue delas tenha sido derramada em vão.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

 

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