ARTICULISTAS

O bônus e o ônus

No dia 03/04/11, a imprensa de Uberaba divulgou duas lamentáveis manchetes

João Eurípedes Sabino
Publicado em 08/04/2011 às 20:20Atualizado em 16/12/2022 às 06:14
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No dia 03/04/11, a imprensa de Uberaba divulgou duas lamentáveis manchetes: “Empresário é assassinado no Santa Maria” e “Auxílio-reclusão de R$ 862,11 beneficia presidiários.” Antônio Alberto Stacciarini, recentemente assassinado, pelo que sei, conheceu o trabalho muito cedo e a vida  não lhe permitiu vislumbrar outra coisa senão a luta de todos os dias. Quantas vezes o menino de Conceição das Alagoas deve ter sonhado em ganhar um salário mínimo? Quantas vezes Stacciarini privou a si mesmo de gastar um salário mínimo consigo e se obrigou a injetá-lo em seus negócios para chegar aonde chegou? E quem lhe ceifou a vida; que sacrifício terá feito?

Se preencher os pré-requisitos (além da comida, proteção, cama, roupa lavada, médico, dentista, visita íntima, assistência social e jurídica etc.), o assassino irá receber a quantia de R$ 862,11, que poderá até virar pensão por sua morte a seus dependentes. Assim nos ilustrou o Dr. Itamar da Silva Rodrigues Júnior, diretor da Penitenciária Aluízio Ignácio de Oliveira. Entendo que a sociedade como um todo é a fiel produtora da marginalidade e nesse rol estou inserido. Todavia, o meu entendimento fecha quando tenho que compreender tamanha inversão de valores. Quem mata recebe o bônus e quem morre fica com o ônus?!?

Minha razão sofre diante de outra coisa: Duplicamos recentemente a capacidade do nosso presídio e preterimos nossas escolas. Nossos governantes deveriam, por isso, ser chamados à responsabilidade.

Sei que o juiz, o promotor de justiça e a polícia não fazem as leis e vejo a “camisa de força” em que vivem para trabalhar. Sei também que as leis estimuladoras do crime são feitas pelo lado podre do Congresso Nacional e aprovadas pela maioria.

“Se os presídios fossem hotéis com diárias a pagar, eles não estariam tão lotados.” Esta frase li recentemente. Estará o seu autor certo ou errado? Não entro nesse mérito, mas que ela mostra um dos convites ao crime, não se pode duvidar.

Enquanto isso; mata-se o homem de bem e paga-se bem ao seu assassino! Bom seria se não ocorresse uma coisa e nem outra.

(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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