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Calamidades

Para bem apresentarmos alguns fatos, é interessante que mencionemos o assunto do momento

Mário Salvador
Publicado em 15/03/2011 às 23:42Atualizado em 20/12/2022 às 01:12
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         Para bem apresentarmos alguns fatos, é interessante que mencionemos o assunto do moment a calamidade. E considerando as devidas dimensões dos problemas, podemos afirmar que o tsunami está para o Japão assim como o desafio encontrado no trabalho pelos fabricantes de queijo está para os mineiros, obviamente em proporção infinitamente menor (é importante reforçarmos essa ideia).

         Exagero? Pode ser. Queremos apenas tomar emprestada a imagem que essa metáfora evoca, pois, se pensarmos na fabricação do queijo mineiro artesanal como, em certos lares, a única fonte de renda familiar, compreenderemos que, em relação ao queijo, algumas medidas de nossas competentes autoridades podem ter sido um tsunami no trabalho dos fabricantes desse produto, que perderam toda a produção que não se apresentava em conformidade com a lei.

         Nós, consumidores desse típico alimento mineiro, torcemos para que a situação seja normalizada, de alguma forma e que seja preservado o sabor do nosso queijo. E enquanto acudimos esse nosso tsunamizinho, rezamos para que o Japão supere a calamidade de que foi vítima.

         Essa arenga envolvendo o queijo nos trouxe à memória uma sequência de fatos ocorridos há alguns anos em nossa cidade. Para narrá-los, pedimos auxílio aos universitários ou àqueles que vivenciaram o quebra-quebra que narraremos a seguir.

Aconteceu que o governo mineiro resolveu, em determinado momento, cobrar impostos dos pequenos agricultores sobre os produtos trazidos para a cidade. Parece-nos que houve até confisco de mercadorias. Foi o que ouvimos, na época.

         De repente formou-se uma turba arrepiante, disposta a fazer justiça pelas próprias mãos, em defesa dos pequenos produtores rurais. A primeira visita dessa turba enfurecida foi à Delegacia da Receita Estadual, que ficava no primeiro andar de uma construção localizada na esquina das ruas Manoel Borges e Major Eustáquio, onde hoje, no térreo, funciona uma lotérica.

Máquinas de escrever, móveis diversos, livros e papéis foram jogados da sacada, sob as palmas da barulhenta plateia.

         A seguir todos se dirigiram ao início da rua Alaor Prata, onde estava instalada a Coletoria Estadual, que, depois de quase totalmente destruída, teve seus milhares de selos de impostos esparramados pelas ruas próximas.

Entusiasmada, a turba fez estragos também na Delegacia do Imposto de Renda, que ficava no térreo do prédio da ACIU. Até um cofre de 500 quilos fora arrastado e jogado no córrego (que, naquela época, ainda era aberto) da avenida Leopoldino de Oliveira.

         E por pouco, muito pouco, a sede da Copervale, nas proximidades do Mercadão, não foi para o espaço.  Aproveitando um brutal aumento da gasolina, os dirigentes da empresa aumentaram o preço do leite na mesma proporção. Alguém da turba gritou o nome Copervale e para lá foi o povão.

Com uma grande presença de espírito, ao primeiro vidro quebrado, os dirigentes da empresa conseguiram convencer o pessoal a se acalmar, mediante a promessa de fazer o preço do leite voltar ao valor que vigorava antes do aumento. O que foi feito.

         São esses os relatos que ouvimos sobre o dia do quebra-quebra ocorrido em um tempo que já se foi. Os leitores que têm conhecimento sobre o assunto poderiam retificar ou ratificar a história.

         Ficamos imaginando se, não mais que de repente, acontece a revolução dos queijos, quando faltar ao mineiro esse ingrediente para o preparo do pão-de-queijo. Mineiro sem pão-de-queijo é igual a gaucho sem chimarrão ou baiano sem vatapá.

         Apelemos, pois, às autoridades para que permaneçam atentas, preservando a nossa saúde, mas de forma a preservar também o nosso queijinho e o ganha-pão de seus fabricantes. Vida longa ao queijo mineiro!

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