ARTICULISTAS

Podemos ser o elo

Desde o dia 22/03/2006, levo em meu carro uma caixa, contendo roupas, calçados, remédios e outros objetos

João Eurípedes Sabino
Publicado em 21/01/2011 às 20:05Atualizado em 17/12/2022 às 07:04
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Desde o dia 22/03/2006, levo em meu carro uma caixa, contendo roupas, calçados, remédios e outros objetos de uso do andarilho nas estradas. Até agora, só doei esses pertences a pessoas desvalidas, cujo endereço seja o longo asfalto e o limite, a linha do horizonte. Flamarion Batista Leite e Maurício Prata Rezende, em ocasiões diferentes, além de outros amigos, já me viram nas estradas exercendo desse mister.

A catástrofe iniciada no dia 12/01/2011 pelas chuvas em cidades da região serrana do Rio de Janeiro me fez voltar atrás na minha decisão. Eis o porquê: Uma senhora de boas posses materiais viu as águas levarem toda a sua família. Casa, carros e outros bens terrenos também foram arrastados pela correnteza do Rio Santo Antônio. Pela TV, aquela desesperada senhora suplicava:“Mandem roupas, água, remédios, comida, qualquer coisa... Só me restou a roupa do corpo!”.

O que tenho para mandar? Perguntei a mim mesmo e, em ato contínuo, lembrei-me da caixa dos andarilhos que carrego no carro. Antes de tocá-la, refleti longamente e pedi autorização aos legítimos donos daqueles objetos para doá-los às vítimas no Rio de Janeiro. Fui “autorizado” e levei tudo à sede do nosso 4ºBPM. Ao noticiar que eu estava ali devido à minha decisão, pessoas presentes se emocionaram comigo. O ainda comandante ten.-cel. João Lunardi, sgt. Luís Cláudio Faria, sd. Antônio Damasceno Jr., jornalista Luís Roberto Gomes da Silva e dr. Wainer Lopes Ribeiro compartilharam daquele momento sensível.

Fui então indagad - A senhora que implorou ajuda ao povo, por acaso, imaginou que um dia faria isso pela televisão? É..., eu não havia pensado nisso, respondi. Em verdade, concorri para que o andarilho doasse algo seu ao semelhante.

Todos nós podemos nos transformar em andarilhos; inclusive eu. Falei isso ao jornalista David Varchavsky, da TV Senado, quando ali fui entrevistado, no dia 31/05/2006. Causei-lhe impacto e justifiquei: Tudo depende do nosso grau de carência e desespero. Aquela senhora que perdeu tudo, de fato, não recebeu ajuda minha, mas do maior dos excluídos, o andarilho. Oxalá ela nunca o tenha ignorado na estrada da vida...

Podemos ser o elo entre doador e receptor.

(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

 

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