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Uma temporada com as crianças

As crianças estão em férias! Para muitos esta é uma época de muito prazer

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 19/01/2011 às 22:23Atualizado em 17/12/2022 às 07:02
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As crianças estão em férias! Para muitos esta é uma época de muito prazer porque existe a real possibilidade de um contato próximo e divertido com os filhos; para outros, ao contrário, é tempo de trabalho dobrado – planejar e viabilizar os dias em que as crianças estão livres das obrigações escolares e totalmente dispostas a outras atividades e passatempos. Mais uma vez os pais são solicitados a organizar este tempo lúdico. Uma ótima alternativa é disponibilizar-se a uma escuta diferenciada e produtiva junto às crianças.

Ouvindo-as falarem compreendemos que a mente de uma criancinha contém um conjunto de impressões mal ordenadas e apenas parcialmente integradas, em acordo com sua capacidade desordenada e parcial de ser e estar no mundo, onde encontramos alguns elementos da realidade vistos corretamente, mas muitos outros completamente dominados pela fantasia. Esta preenche as lacunas de uma compreensão incipiente do mundo circundante, dando nexo racional e sentido emocional, onde encontramos a marca do desejo.

Diante de algum segmento de realidade, mais ou menos corretamente observado,  capaz de provocar angústias ou necessidades, o infante começa a fantasiar de forma a sair desta situação fortalecido, depois de uma incursão pelo imaginário. Os contos de fada, procedendo do mesmo modo que a mente infantil, ajuda a criança nestas incursões imaginativas mostrando como uma clareza superior pode emergir. Assim as estórias da Cinderela, do Chapeuzinho Vermelho, do Joãozinho e da Maria e tantas outras partem de uma situação comum do real, mas um tanto problemática. A criança é defrontada com problemas e situações cotidianas que lhe causam perplexidades e muitas emoções: angústias, esperanças, medos, desejos, amores e ódio. No entanto, a criança compreende que estes lhe falam na linguagem de símbolos e não a da realidade cotidiana, por isso mesmo iniciam com as expressões: “Era uma vez”, “Num certo país”, “Há mil anos atrás”, “Numa época em que os animais ainda falavam”, sugerindo que o que se segue não pertence ao aqui e agora que conhecemos. Esta indefinição deliberada do início dos contos simboliza que estamos deixando o mundo concreto da realidade comum. Os velhos castelos, cavernas escuras, quartos trancados onde a pessoa é proibida de entrar, florestas impenetráveis, tudo sugere que alguma coisa normalmente escondida será revelada ou ainda que vamos tomar conhecimento de fatos muitos longínquos. Este é o espaço tempo inconsciente, a verdadeira vida psíquica.

 

(*) psicóloga e psicanalista

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