Neste calor intenso que nos incomoda antes do verão se oficializar, lembro com saudades dos gibis que eu lia quando criança e que invariavelmente começavam em uma delegacia com sonolentos guardas e o chefe de polícia suando e tomando água, até que entrava alguém correndo para denunciar mais um roubo dos Irmãos Metralhas. Ato contínuo, convocava-se o Mickey e seu ajudante Pateta, que com a astúcia do primeiro e a sorte do segundo, desvendavam todos os crimes, colocando os Metralhas na cadeia.
Aos poucos esses gibis foram dando lugar a outros que com o tempo migraram para o cinema, surgindo a geração dos super-heróis com seus super-poderes que tudo podem, tudo vencem.
Penso que a imagem do Super-Homem ficou de alguma forma guardada em nossos cérebros, sobrepondo a dos heróis normais e fazendo com que a todo momento olhemos para o céu na vã esperança de que ele desça com sua capa e, poderoso resolva os problemas do mundo.Meus caros, lamento afirmar: Super-Homem não existe.
Digo tudo isso a propósito da inércia do brasileiro que fica esperando uma mudança mágica vinda, claro, dos céus, desobrigando-o de agir, de exigir, de trabalhar arduamente sem compactuar com a corrupção, com a leniência do poder público, com a ineficiência das Instituições, com as mortes em série devido ao catastrófico sistema de saúde pública no Brasil. Há os que viam na presidente eleita uma salvadora da pátria e mesmo alguns que nela não votaram passaram a anunciar que ela iria surpreender. Como? Com sua capa voadora? Vejam o Ministério que está sendo formado. Ouvimos falar em cota do PT, cota do PMDB, cota dos partidos aliados, cota dos cacifes da política brasileira, mas em nenhum momento ouvi falar da cota da competência, do mérito, da inteligência. Onde está a mágica? Como vamos melhorar fazendo sempre o mesmo e esperando resultados diferentes? Toda mudança é trabalhada, construída, depende de vontade, de esforço.
Não existe Super-Homem para nos salvar. Resta-nos fazer a nossa parte não sendo coniventes com nada além da verdade e da transparência. Não se vendem consciências. O conformismo emburrece, imobiliza. Judas vendeu Jesus por 30 moedas de ouro. Hoje tudo está a venda... quem tem dinheiro compra.
Almejo um mundo melhor, onde a mágica exista, mas fruto de um truque simples e acessível: a magia da Honestidade, acima de tudo.
